quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O resultado do Jabuti segundo o Estadão

É tipo um jogo dos sete erros. Logo cedo, em casa, li a matéria publicada no Estadão sobre a cerimônia de entrega do Prêmio Jabuti de literatura, realizada na véspera, na Sala São Paulo. Estive lá, e acordei curioso para saber o que escreveriam. Fiquei surpreso ao perceber que o veículo simplesmente omitira o nome da grande vencedora da noite na categoria não-ficção. A psicanalista Maria Rita Kehl, autora de O Tempo e o Cão (Boitempo), fora sumariamente alijada da reportagem. Por quê? Em poucos segundo, concluí que a supressão de seu nome teria decorrido do fato de o mesmo jornal ter dispensado a autora, ex-colunista de suas páginas, após a publicação de um artigo no qual Maria Rita defendia o respeito à população menos instruída, constantemente ridicularizada pelos mais "estudados" por votar em Dilma. A coluna teria sido considerada afronta grave ao jornal dos Mesquita, que declarara apoio a Serra meses antes, e a autora não apenas foi dispensada como, ao conquistar o Jabuti, teve seu nome vetado na referida matéria.

Indignado, corri para o Twitter e compartilhei minha indignação. Ao chegar ao trabalho, um amigo veio puxar minha orelha. Deixou sobre minha mesa o mesmo recorte, com quatro linhas grifadas, exatamente para mostrar que eu estava louco: Maria Rita Kehl havia sido, sim, mencionada na reportagem.

Assim é o cotidiano no jornalismo diário. Há a primeira tiragem, a segunda tiragem... Minha indignação permanece. Por algum motivo, o redator optara por escrever sua matéria sem citar Maria Rita, muito embora já soubesse de sua conquista ao fechar a matéria publicada no jornal que recebi em casa, fechado às 23h45 segundo inscrição impressa na primeira página. Mais tarde, por ter sido advertido ou simplesmente por ter se dado conta do absurdo do deslize, fez a alteração e incluiu Maria Rita na edição que chegou às mãos do meu amigo, impressa às 0h30 conforme registro. Menos mal. Pior seria se a primeira versão tivesse vindo com a menção à autora e a segunda, sem. De uma forma ou de outra, parabéns a Maria Rita Kehl pela coerência, pela ousadia, pela qualidade do trabalho que desempenha e pelo livro, que eu ainda não li, mas já aprovei.

domingo, 7 de novembro de 2010

Vá de táxi

A reportagem de capa da mais recente edição de Época SÃO PAULO gerou um burburinho acima da média. Ainda agora, no domingo seguinte à publicação, estamos colhendo os resultados da repercussão em sites, blogs e redes sociais. Não é de hoje que o tema da matéria - o que acontece com seu carro depois que você entrega as chaves a um manobrista - suscita indignação e espanto. O que nossa edição traz de novidade, além do testemunho pessoal e sem censura feito em primeira pessoa pela repórter Nathalia Ziemkiewicz, é a decisão editorial de retratar o cenário quase apocalíptico em que se converteu a noite paulistana com um olhar ao mesmo tempo aguçado e irreverente, jamais acompanhado de dedo em riste e pedantismo (como certas publicações que insistem em querer ensinar, alertar, doutrinar o leitor). Se existe algo de absurdo nas situações apresentadas na reportagem "Cara, cadê meu carro?", quem pode julgar é o leitor. O leitor e os espectadores dos dois vídeos de três minutos e pouco produzidos pela repórter em parceria com os fotógrafos Fernando Donasci e Leandro Moraes, que testaram alguns dos mais disputados serviços de valet parking de São Paulo com uma câmera escondida no veículo.


Juntos, os dois vídeos foram publicados no Youtube na quinta-feira 4. Na mesma tarde, se alastraram pelo Twitter, foram retuitados por Marco Luque, do CQC, para seus mais de 1 milhão e 300 mil seguidores, renderam matéria no Kibeloco e abriram caminho para que, na manhã do dia seguinte, ainda em alta, os vídeos ocupasses os dois primeiros lugares no topo da homepage do próprio Youtube. Ganharam um lugarzinho no Bombou na Web e, no momento em que escrevo, preparam-se para atingir, juntos, 850 mil acessos. Tudo isso em menos de quatro dias.


Para quem ouviu a sugestão de pauta de Rodrigo Pereira, conversou sobre ela com Ricardo Alexandre e ainda se lembra de ter ouvido dúvidas de colegas quanto à conveniência de publicá-la na capa, uma vez que todos nós nos recordávamos de ler matérias semelhantes em outros jornais e revistas, a sensação de  dever cumprido é gratificadora. Imagino que também esteja sendo gratificadora para a Nathalia, a maior responsável pelo sucesso da aventura (sim, reportagens como essa têm um sabor de aventura que só aqueles que dedicam suas vidas a buscar e relatar as melhores histórias são capazes de entender).


Nath é uma das repórteres mais destemidas que eu conheço. Aos 24 anos, magra e de baixa estatura, com uma aparência meiga e de amplo sorriso ao primeiro contato, a moça sobe nos tamancos à busca da notícia e não hesita em trocar o sono por mais algumas horas de apuração quando vislumbra informações fresquinhas no horizonte. Uma palavra antiga e completamente fora de uso é boa para qualificar sua postura no trabalho: azougue. Ao longo de três semanas, ela visitou mais de trinta estabelecimentos comerciais, entre bares, restaurantes e baladas, para testar o atendimento feito pelos manobristas. Procurou advogados e representantes de classe para reunir informações sobre o setor, compilar estatísticas e entender o que as empresas podem e o que elas não podem fazer. Torcíamos juntos. Quando ela me ligava ou mandava um torpedo da rua dizendo que o carro havia sido levado para um estacionamento, lamentávamos, subvertendo o pensamento normal do cliente cuidadoso.
Estranha raça a de jornalistas, sempre querendo desgraça, sangue, confusão! Passei três semanas torcendo para que o carro conduzido pelos manobristas visitados parasse na rua, levasse multa, fosse amassado e até roubado. Ficava imaginando o que os funcionários da empresa diriam ao constatar que o carro, deixado por eles junto ao meio-fio em um local ermo a três quarteirões do estabelecimento comercial, simplesmente desaparecesse. A repórter ficava especialmente irritada quando via dezenas de carro sendo estacionados na rua, e até recebendo multa de uma agente da CET, e na hora de testarmos o nosso carro era estacionado tranquilamente em um estacionamento. Por que diabos tinha que dar errado justamente com a gente? Dar errado, no nosso caso, era cumprir a lei. Dar certo era flagrar uma infração. Estranho, não?


Quando Nath me contou que até no Figueira Rubaiyat o carro ficava na rua, exultei. Caramba, um casal gasta mais de R$ 300 para jantar ali e os caras não têm sequer a decência de guardar num estacionamento? Minha alegria de editor que percebe um grande texto em construção só não foi maior do que na hora em que ela me contou que um manobrista havia jogado o carro sobre a calçada para desviar de outro veículo e danificara uma calota dianteira com a barbeiragem. Pronto, já não tínhamos do que reclamar. A destemida repórter havia conseguido flagrar um belo cardápio de deslizes e incorreções.


Um dos carros usados na reportagem, aliás, é meu. Justamente o que teve a calota danificada. Não vou entrar em detalhes sobre o que mais aconteceu com ele, inclusive com a destemida repórter ao volante. Até o estagiário teve a oportunidade de guiá-lo durante a apuração da matéria. Dia desses, a Nath postou no Facebook alguma coisa como "quantas pessoas não gostariam de ter a chance de usar o carro do chefe". No meu caso, acho que não teve muita graça para ela. Seria melhor se fosse um Audi, um Toyota, ou pelo menos um Honda, diz aí! E certamente seria muito mais legal se o chefe dela fosse mais apegado ao carro, daqueles homens que curtem ler e discutir sobre motores e modelos, e que passam longos minutos todos os domingos encerando a lataria. Para mim, carro é um meio de transporte - e digo isso mesmo correndo o risco de ter de pagar três anos de terapia para meu Corsa.
Em tempo: já coloquei WD na porta do carango. O rangido registrado ao longo do vídeo toda vez que a porta abria ou fechava já estava dando nos meus nervos.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Em Brasília, uma outra perspectiva


Estive em Brasília no feriado. Na agenda do fim de semana, incluí uma deliciosa visita ao Centro Cultural Banco do Brasil, onde está em cartaz uma exposição do artista holandês M. C. Escher (no caso, MC não é "mestre de cerimônia" como se tornou mandatório com o advento do hip hop, mas Maurits Cornelis apenas, embora tenha sido com o sobrenome que o mestre da ilusão de ótica e das construções impossíveis tenha ficado conhecido). Desconfio que muitos da minha geração tiveram a mesma oportunidade de conhecer algumas de suas xilogravuras e litografias, talvez em uma aula de geometria ou mesmo em jovens tardes lisérgicas entre coqueiros ou ipês. A queda d'água que culmina em um impossível caminho ascendente é uma de suas obras mais lembradas.
Parece que a exposição não está prevista para vir a São Paulo, o que é uma pena. Ver de perto cada uma de suas criações é um grande barato. Deu vontade de ter conhecido e mesmo convivido com esse senhor de cavanhaque. O que haveria dentro de sua mente? O que ele se permitiria deixar transparecer?
Antes de deixar o CCBB, assistimos, Aline e eu, a um vídeo em 3D que busca desconstruir seu processo criativo e apresentar cada uma de suas construções da maneira como ela de fato seria se pudéssemos circundá-la de helicóptero. E, evidentemente, não pude deixar de tirar uma foto gaiata, imitando o famoso auto-retrato do mestre holandês. Porque Escher é assim: ele nos inspira gaiatices e irreverências. Nada melhor para voltar ao trabalho renovado.
Na mesma noite daquele domingo, os jornais confirmaram o que eu já imaginava ouvir: Dilma Rousseff foi eleita a primeira presidente do Brasil, a primeira mulher a comandar o país desde que uma princesa de nome Isabel rendeu o pai no governo do império e entrou para a História como a libertadora dos escravos ao assinar a Lei Áurea. A eleição da ex-guerrilheira que jamais havia disputado um cargo eletivo, mas que dedicou uma vida a cargos técnicos da administração pública diz muito do que se espera dos próximos quatro anos. Menos bravatas e menos teatro, na comparação com o eterno protagonista Luiz Inácio Lula da Silva, e mais resultados.
A eleição de Dilma vem recheada de simbologias. É a primeira mulher, como destacado em todos os jornais, mas uma mulher mais durona do que muitos homens e menos afeita a vaidades femininas do que o usual. É também a primeira representante da geração da resistência, que flertou com o marxismo e pegou em armas para combater a cassação das liberdades individuais promovidas por um regime militar sanguinário a partir do final dos anos 1960. É, no retrovisor, uma pessoa com mais estudo e mais habilidade em tomar decisões do que seu antecessor no cargo, o que pode ser um alívio para aqueles que, como eu, costumam se irritar quando o jogo de cena supera a ação e a "encheção de linguiça" vira expediente estrutural na condução de políticas públicas e na investigação de corrupção. Sem o carisma de Lula nem o partido nas mãos, Dilma Russeff terá inevitavelmente de assumir uma postura mais diplomática e humilde, muito embora tenha a seu favor um sentido de soberania que parece trazer desde o berço e, ainda mais relevante, uma inédita maioria no Congresso, que não deverá ser desperdiçada.
O que tudo isso tem a ver com Escher? Eu diria, correndo o risco de forçar a amizade, que ele nos ensina a olhar o mundo com outros olhos, a questionar o tempo todo o que aparece à nossa frente, a duvidar do que se pinta no papel e de todos os elementos empregados pelas instituições clássicas para nos acondicionar a uma única visão das coisas. Também a eleição de Dilma me parece um lampejo de nova perspectiva. E eu torço por ela.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O aborto e o retrocesso

Eu sou a favor da descriminalização do aborto. Também sou favorável à adoção de crianças por casais homoafetivos, ao uso de preservativos e ao sexo antes do casamento, embora nada disso venha ao caso. Conheço algumas mulheres que abortaram e posso afirmar que nenhuma delas tem orgulho do que fez. A opção pelo aborto não é coisa à toa, como escolher um restaurante ou um DVD na locadora. Na totalidade dos casos, é beco sem saída, decisão extremada, eleição do "mal menor" diante de um cenário sem perspectiva. Sou a favor da descriminalização do aborto e, também, a favor da vida. As duas coisas não são excludentes como insistem os inquisidores de batina e as campanhas eleitorais. Sou a favor de uma vida mais digna para a mãe solteira que se descobre grávida do quinto filho quando a comida não chega para os quatro primeiros. E, principalmente, sou a favor de um atendimento ambulatorial decente a quem, sem o amparo da lei, continuará recorrendo a agulhas de crochê em latrinas coletivas e banheiros de rodoviária.
No Brasil, aborto é coisa corriqueira. Os ricos encontram amparo em clínicas bem aparelhadas e consultórios ginecológicos na Vila Madalena ou na Avenida Brasil. Se acontece com a filha adolescente, logo as mães se telefonam, pedindo indicação às amigas, porque há sempre uma sobrinha que passou por isso no ano passado, ou a nora. É preciso agir rápido para que o feto não chegue à décima segunda semana. E discretamente, para que ninguém fique sabendo. Bastam dois comprimidos de cytotec, um via oral e outro introduzido na vagina. Alguns médicos recomendam dobrar a dose: dois por cima, dois por baixo. Pronto. Quem não tem cytitec caça com agulha. E tome sermão religioso para causar ainda mais dor e arrependimento. Muitas vezes, não dá nem tempo de esperar o sermão e conviver com os fantasmas de um Deus severo e vingativo: a morte chega antes, travestida em hemorragia interna. Quem é mesmo a favor da vida?

Não sou a favor do aborto, mas a favor da descriminalização dele. Nenhum estudo consistente conseguiu provar, até agora, que a legalização da prática faria intensificar sua ocorrência. O que se sabe é que centenas de meninas deixariam de sangrar até a morte, sem assistência, nos grotões dos morros e dos sertões. Aborto é questão de saúde pública, não pode ser tratado como dogma cristão ou trampolim eleitoral. Muito me espanta o uso que tem sido feito do assunto na campanha deste ano. Em primeiro lugar, porque aborto é questão legislativa, impossível de ser alterada por decisão do executivo e totalmente fora da pauta. O PT está há oito anos no governo e jamais colocou o assunto na agenda; por que o faria agora? Em segundo lugar, porque esse debate, da forma como tem sido conduzido, tem causado um retrocesso enorme do ponto de vista cultural e político, patrocinado pelos mesmos setores da elite que se dizem progressistas no que tange os princípios da sustentabilidade e do liberalismo econômico. Tudo isso é muito triste. Faz encolher as liberdades individuais e amplia a tutela de um Estado cada vez mais refém da religião, do atraso e do falso moralismo. Se um segundo turno é sempre benéfico para o processo democrático, corremos o risco de desperdiçá-lo em nome de picuinhas babacas, conservadoras e totalmente fora de propósito.

domingo, 3 de outubro de 2010

Onda verde


Muito bem. Com 56% das urnas apuradas, parece que a tal "onda verde" funcionou, contribuindo para levar a eleição para o segundo turno. Ótimo para a democracia e, principalmente, para desfazer o caráter plebiscitário do pleito deste ano. Particularmente, considero a Marina uma candidata fraca, apoiada em um partido fraco, com agenda monotemática e posições atrasadíssimas em relação a temas como o aborto, embora de extrema relevância no poder legislativo. Sua participação, no entanto, foi fantástica para o processo eleitoral e trouxe uma contribuição legítima e muito bem-vinda, com temas essenciais que não serão desprezados em um eventual governo Serra nem em um eventual governo Dilma. Espero que seus eleitores escolham a melhor posição no segundo turno. Minha maior implicância com o PV foi descobrir, em frente a meu colégio eleitoral, que, a despeito do ambientalismo praticado por seus candidatos, toneladas de santinhos foram espalhados por eles nas calçadas: o mesmo expediente idiota, sujo e nada ecológico empregado pelos adversários de pior pedigree.

Foto tirada por mim às 14h de hoje em frente à PUC de Perdizes, em São Paulo

Dois pesos...

O Estado está sob censura há 429 dias. A informação está lá, impressa em um quadradinho encaixado num canto de página do primeiro caderno. Os diretores do jornal ainda não se cansaram de publicar, diariamente, o cálculo atualizado do tempo da censura. A estratégia pode ser justificável em tempos paranóicos como os nossos, quando as bravatas do presidente (nos estertores de seu segundo mandato) provocam arrepios nos zeladores da democracia. O que espanta é descobrir que os mesmos jornalões que garimpam indícios autoritários nos discursos de ministros - e se esforçam em divulgar ilações sobre um eventual controle da mídia - mostram as garras na hora de impedir a liberdade de imprensa daqueles que os vigiam e combatem. Censura é coisa boa quando serve a nossos propósitos, parece reconhecer a direção da Folha de S. Paulo ao interromper, com amparo judicial por meio de antecipação de tutela, a veiculação do site Falha deS. Paulo, sátira inaugurada em meados de setembro pelos irmãos Lino Ito Bocchini (jornalista da revista Trip) e Mario Ito Bocchini.
A alegação, evidentemente, foi de uso da marca. Tal expediente permite ao jornalão prescindir de maiores discussões, apelações ou análise do mérito. Logomarcas e tipologias são protegidas por lei, e não se fala mais nisso. Toda sátira, entretanto, pressupõe utilizar o objeto principal como plataforma para digressões e criações, de forma espirituosa ou ácida, a depender do escopo da crítica pretendida. Designers de camisetas são craques nisso, acostumados a transformar o logo da Puma em apologia ao cigarro ou a adicionar as palavras "duma égua" após o logo da Fila. Nascidos da fusão editorial dos irreverentes Planeta Diário e Casseta Popular, nos anos 1980, os humoristas do Casseta & Planeta não estariam aí até hoje não fosse a vasta habilidade em produzir paródias.

Um jornal como a Folha poderia ter se abstido de comprar essa briga. Preferiu peitar o site, tal qual um Golias enfurecido. Os autores da Falha, sem combustível para arriscar o pagamento de multa diária de R$ 1 mil, retiraram o site do ar, deixando apenas um último registro de indignação. Poderão retomar o projeto, se assim quiserem, e manter grande parte do conteúdo produzido em suas duas semanas de vida, até o assassinato precoce no último dia 30, desde que retirem as referências visuais feitas ao jornal, precisamente o uso do logo. Material não vai faltar. No noticiário produzido pelo jornal, pipocam pensamentos a serem desconstruídos e manchetes a serem ironizadas. Nada como um processo eleitoral, acompanhado da erupção recente dos deliciosos #DilmaFactsByFolha (alçados aos trending topics do Twitter há cerca de um mês), para aguçar nosso olhar sobre o jornalismo que nos acostumamos a consumir. Eu prefiro acreditar que um outro jornalismo é possível.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O editorial do Estadão

Melhor assim. Em editorial publicado neste domingo, com o título "O mal a evitar", o jornal O Estado de S. Paulo declara apoio a José Serra. "Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República", diz o texto, "e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a condução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado porvalores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País."
Durante a semana anterior, em entrevista ao portal Terra, Lula havia alfinetado o posicionamento ideológico dos diários brasileiros, de maneira generalizadora, em mais um discurso recebido como sinal de destempero e autoritarismo pelas empresas de comunicação. "A imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem um partido", alardeou o presidente. "Seria mais simples, seria mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada." Em resumo: Somos todos governados por um ditador que não tolera o contraditório, acusam a revista mais vendida do Brasil e seus principais jornalões. Golpista é a mídia, retribui o chefe de Estado.
Declarar apoio é prática habitual em veículos de comunicação dos Estados Unidos. Aqui, as mesmas "nove ou dez famílias" que controlam a imprensa, nas contas de Luiz Inácio, se apegam ao (frágil) conceito de imparcialidade como se dele tirassem seu sustento e dele dependesse seu faturamento anual. Bobagem. A opção é sempre evidente. Sem adentrar no âmbito dos motivos e das intenções, sabemos perceber quando a Carta Capita e a IstoÉ se inclinam em favor de Dilma e quando Serra é incensado por Veja e Época, para além dos jornalões. Suzana Singer, ombudsman da Folha, tem razão quando reclama, na edição deste domingo, que Dilma e Serra perderam espaço na cobertura jornalística em favor de uma batalha travada entre o presidente e a imprensa. "Quem perde com esse debate turvo é o eleitor não militante, que gostaria de saber um pouco mais sobre o que pensam os candidatos e o que pretendem fazer", diz o texto. A mesma ombudsman concorda que "os críticos à Folha têm razão quando afirmam que o noticiário está mais negativo a Dilma do que a Serra" e que "no afã de esmiuçar a biografia da candidata do governo, fatos sem importância ganharam destaque indevido". São os ônus de liderar as pesquisas e representar o governo em exercício. Imprensa, no Brasil, é quase sempre oposição - e isso valia para Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco e Fernando Collor. O chato, o ruim, o triste, é vislumbrar uma oposição irresponsável e rancorosa, como muitas vezes foi a atitude do mesmo presidente Lula em tempos de oposição - e que a história mostrou equivocada e contraproducente.
O Estadão fez bem em declarar quem é, afinal, seu candidato. Agora só falta o resto da imprensa "imparcial" fazer o mesmo.

domingo, 19 de setembro de 2010

Notas sobre uma semana que já deu

1- De acordo com o laudo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, ganhei uma "esofagite não erosiva distal" e uma "gastrite erosiva de antro de leve intensidade". As duas devem ser contagiosas. Mantenham distância segura.

2- Em mês de estreia, sem coquetel nem coletiva de imprensa, fechei 27 páginas da revista. Falta uma. Apenas uma. E ainda não consigo entender por que estou aqui jogando conversa fora, quando poderia estar honrando esta dívida.

3- Por falar em dívida, me disseram que eu teria um aumento a partir do próximo dia primeiro. Como temos um adiantamento de salário todo dia 20, com 40% do valor total, corri para ver quanto pintaria na minha conta nesta segunda. Entusiasmo interrompido às pressas: o dinheirinho é o mesmo de sempre. Descobri que os aumentos não respeitam adiantamentos.

4- Em tempos de Ti-ti-ti, há um jornalista meio maluco, meio mitônomo, meio ressentido e meio paranóico escrevendo um monte de picuinhas em seu blog. Supera em intrigas e paixão muitas das melhores novelas. E, como as novelas, parecem inspiradas na realidade. Apenas inspiradas.

5- Não, não é a mim que me referi no item anterior - embora admita que eu também tenha meu lado meio maluco, meio mitônomo, meio ressentido e meio paranóico.

6- Por falar nisso, nesta sexta-feira uma amiga me fez um elogio no trabalho e eu tomei como crítica. Na hora, emburrei, sentindo-me desautorizado. Foi um alívio quando ela me explicou que havia sido um elogio. No dia seguinte, li no Quiroga: "Comunicar-se não é o mesmo que comunicar. Quando você se comunica, leva em conta que há outra pessoa à sua frente e se dispõe a ouvi-la. Quando você comunica, você torna irrelevante haver um ser humano à sua frente." Foi como um deja vu. Lembrei as aulas da faculdade, quando discorríamos sobre emissor e receptor, e sobre os ruídos que podem ocorrer no processo de comunicação, fazendo com que o receptor não entenda a mensagem da mesma maneira como o emissor a pensou. E nós, dois comunicadores profissionais, que se gostam e se respeitam, fomos vítimas disso.

7- Também lembrei um conto que li quando criança, engraçadíssimo, no qual um americano interessado em comprar uma propriedade bucólica na Inglaterra, após visitar o casarão, envia uma carta ao proprietário pedindo mais informações a cerca do WC. Como WC é expressão americana, pouco usada na Inglaterra (ou vice-versa, sei lá), o proprietário conclui que o candidato a comprador se refere à "white chapel", a capela. Em sua resposta, surge uma descrição bastante detalhada do ambiente, com frases como "tem lugar para 40 pessoas sentadas e 80 em pé", "fica a apenas cem metros da casa" e "tudo o que é recolhido ali é encaminhado a instituições de caridade". Eu me divertia horrores tentando imaginar um banheiro com essas qualidades todas. E nem podia imaginar que, um dia, entenderia o que são ruídos na comunicação lembrando corriqueiramente daquele conto. Infelizmente, não faço ideia de quem seja o autor.

8- Tenho reatado conversas com colegas que não vejo há algum tempo. Sinto-me feliz por saber que há pessoas que eu admiro querendo colaborar com a revista, entusiasmadas e dispostas. Principalmente quando recebo e-mails de jornalistas que eu nem sequer conheço, empregados em outras redações, também interessados em frilar, se candidatar a vagas, tomar um café. O bom jornalismo ultrapassa as fronteiras entre as empresas, as editoras, os jornais. Quem pensa nessas barreiras o tempo todo, por razões óbvias, são os donos dos veículos. Nós, jornalistas, poderemos ser colegas amanhã, ou concorrentes na semana que vem. E criar esse respeito, esse trânsito, essa comunidade, é algo que me desafia e me fascina.

9- Lugar de repórter é na rua, aprendi com meus mestres. Lugar de editor, infelizmente, não é. Só na sexta-feira, passei 16 horas sentado, olhando para o computador. Parece que terei de retomar as sessões semanais de RPG...

10- Fiquei com orgulho da equipe com a qual trabalho. Não é a primeira vez, é claro, mas agora o meu trabalho passou a depender do trabalho deles como nunca. O Edu, junto com a Thais, conseguiu organizar um caloroso debate com a presença de todos os diretores dos seis colégios paulistanos melhor colocados na mais recente edição do Enem. A Andrezza e o Luiz, já atolados em outras matérias, pararam tudo o que faziam para transcrever, por duas tardes inteiras, quase três horas de gravação. A Nath teve de administrar momentos intensos de indecisões e reviravoltas profissionais sem deixar a peteca cair, trazendo soluções e acompanhando fotos de última hora com um engajamento irrecusável. O Fernando bolou infográficos, questionou abordagens e foi buscar fontes tipográficas diferentes para deixar as páginas mais interessantes. A Darlene testou diversas opções de abre até encontrar a melhor solução, muito parecida com sua primeira sugestão. Preciso comer mais feijão pra ser digno dessa gente e, quem sabe, conseguir que eles também tenham orgulho de mim.

11- Comprei passagens para ir a Brasília no feriado de Finados. Saudade do Chico, meu cumpádi, e da Flora, afilhada querida. E vou aproveitar para, finalmente, conhecer o apartamento do papai. Passei todos esses anos sem ir conhecer e, agora, ele já está praticamente com as malas prontas para voltar. Além disso, soube que existe a possibilidade de Chico, Carol, Flora e Antonio se mudarem para a Bahia. No ano que vem, quem sabe, minha visitinha será a uma cidade muito mais agradável, com "coqueiro, brisa e fala nordestina, e faróis".

12- Achei "Marvada Carne" para comprar. Depois de assistir ao novo filme do André Klotzel, o "Reflexões de um Liquidificador", fiquei interessado em rever as impagáveis atuações de Fernanda Torres e Regina Casé, naquele que é o filme nacional que mais me diverte e entusiasma. Mundo véio sem portêra...

13- Hoje não vou falar de eleição nem de futebol. Deu pra entender? Ô raça!

domingo, 12 de setembro de 2010

O Tempo

"Alice suspirou enfastiada.
- Acho que você devia ter mais o que fazer - comentou - ao invés de gastar o tempo com adivinhas sem respostas.
- Se você conhecesse o Tempo tão bem quanto eu conheço - disse o Chapeleiro - não falaria em gastá-lo como se ele fosse uma coisa. Ele é alguém.
- Não sei o que você quer dizer - respondeu Alice.
- Claro que não sabe! - disse o Chapeleiro, inclinando a cabeça para trás com desdém. - Diria mesmo que você jamais falou com o Tempo!
- Talvez não - replicou Alice cautelosamente - mas sei que tenho de marcar o tempo quando estudo música.
- Ah! Olhe aí o motivo! - disse o Chapeleiro. - O Tempo não suporta ser marcado como se fosse gado. Mas, se você vivesse com ele em boas pazes, ele faria qualquer coisa que você quisesse com o relógio. Por exemplo: vamos dizer que fossem nove horas da manhã, que é hora de estudar. Você teria apenas que insinuar alguma coisa no ouvido do Tempo, e o ponteiro correria num piscar de olhos: uma e meia, hora do almoço.
("Gostaria que fosse mesmo" - disse para si mesma, num sussurro, a Lebre de Março.)
- Isso seria formidável, com certeza - disse Alice, pensativamente. - Mas então... talvez eu não tivesse fome ainda, entende?
- A princípio não, talvez - disse o Chapeleiro - mas você poderia ficar em uma e meia o tempo que quisesse.
- É assim que você faz? - perguntou Alice.
O Chapeleiro balançou a cabeça negativamente, com tristeza.
- Não, eu não - replicou. - Eu e o Tempo tivemos uma briga em março passado."
(Lewis Carroll, Aventuras de Alice no País das Maravilhas, traduzido por Sebastião Uchoa Leite)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O direito à comunicação


Ontem fui ao lançamento do livro "Indicadores do Direito à Comunicação", escrito por meus amigos do Intervozes, um coletivo formado por jornalistas e radialistas preocupados com os conglomerados de mídia e sua resistência, velada ou aberta, à democratização dos meios de comunicação.
Voltei para casa interessado no tema e no título. A despeito de todos os vícios de linguagem ali reunidos - um compilado de expressões disseminadas em universidades e obras acadêmicas como "fomentar", "fortalecer o diálogo" e "desafios e opções metodológicas" -, gostei muito do que li. A justificativa do estudo, logo na página 15, serve como ponto de partida explícito da relevância da abordagem. "A defesa do direito à comunicação esbarra cotidianamente na ausência de referências objetivas", diz o texto. "Ao mesmo tempo em que se ampliam os atores envolvidos nessa luta e o entendimento de sua centralidade para a luta pelos direitos humanos, faltam elementos de referência sobre seu atual estágio de desenvolvimento e apropriação pela população". Mais além, ainda na mesma página, os autores traçam com humildade e singeleza a linha-mestra da empreitada: "A intenção desta pesquisa foi dar início ao desenvolvimento de indicadores que permitam à sociedade quantificar e qualificar os elementos fundamentais que indicam a efetivação do direito à comunicação, estabelecendo referências normativas para isso. Esta questão se torna ainda mais relevante quando se entende a comunicação como elemento chave para a democracia."
Direito à comunicação é um conceito ainda relativamente novo, que chega ao centro do debate para ser devidamente explorado e, à medida do possível, exaurido. Ele se soma ao já bastante conhecido tema da liberdade de expressão. Trata-se, se me permitem uma analogia com a campanha eleitoral deste ano, do "pós-Lula" da democratização da mídia. Vamos a mais um trecho do livro, copiado da página 23: "A liberdade de expressão é um direito humano fundamental. Entretanto, a ideia por trás do direito à comunicação sustenta que esta liberdade só pode ser alcançada de forma plena se for assegurado um conjunto mais amplo de direitos ao seu redor, como o acesso aos meios de comunicação de massa. Na prática, o direito à comunicação requer que sejam criadas, de fato, as condições necessárias para um ciclo positivo de comunicação, que envolve um processo não apenas de busca, recepção e transmissão de informações, mas também de escuta, compreensão, aprendizagem, criação e resposta - o que passa por medidas que assegurem a diversidade da propriedade e dos conteúdos dos meios de comunicação, indo além da liberdade de expressão como direito individual."
Mais provocações? Vamos lá: "De acordo com a lei, uma pessoa pobre que busca dar visibilidade à injustiça que sofre tem a mesma proteção de seu direito à liberdade de expressão, de expressar seus pontos de vista, do que um poderoso magnata dos meios de comunicação. Porém, na prática, ela carece de recursos de toda ordem - econômica, política, técnica, cultural e social - para fazer ouvir sua voz, enquanto o dono de um veículo possui os meios para garantir que sua mensagem seja amplamente ouvida. A liberdade de expressão pode ser na prática, então, uma liberdade para poucos, muito poucos. De fato, quão real é a liberdade de receber e transmitir informação quando não se pode ler ou escrever? Ou a liberdade de buscar e receber informação em lugares onde os governos e empresas não têm obrigação de fornecê-la? Ou quando o acesso a meios de comunicação como a telefonia ou a internet não são garantidos?"
Funcionário há dois anos e meio de um desses grandes grupos de mídia, dos que gozam da mais completa diversidade de recursos e instrumentos para exercer a liberdade de expressão na forma mais ampla, conforme a analogia mencionada pelos colegas do Intervozes, sinto-me de alguma forma devedor dessa frente, dessa ordem, dessa aliança. Com o novo livro em mãos, já em casa, passei um bom tempo tentando entender por que diabos ainda não procurei o pessoal do Intervozes para me associar, pedir minha "filiação" ou seja lá o que baste para que eu possa também integrar essa aguerrida militância. Um sorriso meio maroto me surpreendeu, sozinho, quando pousei novamente os olhos nas carinhosas dedicatórias rabiscadas na folha de rosto: "Ao Camilo, ator importante nesse cenário desértico, carente de boas palavras e vozes inspiradoras", começava a mensagem do João, que conheci pelo apelido de Auí quando ainda éramos garotos. "Camilo, seguimos juntos em busca de nossa utopia democrática", emendava o amigo Diogo. Deus os ouça, meus caros, Deus os ouça.

Em tempo: O livro dispõe de uma licença Creative Commons e também pode ser baixado, em pdf, clicando-se aqui.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Um giro pela Liverpool Paulistana

Moro na Pompéia. Mudei para cá nove anos atrás, talvez um pouco mais, egresso de um bairro vizinho, o Sumaré. Quando criança, tudo o que eu conhecia por aqui era o SESC Pompéia, um lugar que me fascinava em razão das janelas em forma de peça de quebra-cabeça e dos laguinhos repletos de seixos rolados, com ponte e tudo, distribuídos em um dos ambiente. Tinha também o Shopping Center Matarazzo, embrião do atual Shopping Bourbon, que de tão mambembe jamais se consolidou como opção comercial ou de lazer na cidade. Era lá que eu cortava cabelo quando tinha uns oito ou nove anos. E às vezes ia ao McDonald's. Adolescente, continuei frequentando o SESC, agora atraído pelos shows de música, sempre com preços acessíveis.


Minha Pompéia foi ficando cada vez maior. Bares, restaurantes, lojas, cantinhos foram se somando ao meu tímido repertório e, aos poucos, fui conhecendo a vila até tomar gosto por andar a pé por suas ladeiras. No mês passado, a revista pediu que eu fizesse um "Vá a pé" no bairro. "Vá a pé" é uma seção da Época São Paulo na qual sugerimos um roteiro, cada edição em um bairro diferente, e convidamos os leitores a conhecer cerca de dez estabelecimentos, sejam eles gastronômicos, turísticos ou comerciais, em um percurso que costuma variar entre dois e cinco quilômetros: coisa para se fazer numa agradável tarde de sábado, sem histeria de relógio. Acabei descobrindo que a Pompéia, já apelidada de "Suíça Brasileira" e de "Liverpool Paulistana", completa 100 anos agora em outubro. E confirmei, mais uma vez, meu imenso prazer em viver por essas ruas.

Convido você a conferir o mapa criado por Daniel das Neves e descobrir algumas das jóias do bairro clicando aqui.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

N.D.A.

Excerto de texto de Fabrício Carpinejar, publicado no jornal Zero Hora e no blog dele (clique aqui para ler a crônica na íntegra):

"Toda mulher é experiente em testes. Atravessou a adolescência preenchendo questionários de revistas femininas, definindo pela pontuação se é sensual, se terá sucesso financeiro, se ele a ama. (...) O homem deve ficar atento quando se apaixona. Para desvendar qual é o exame decisivo da convivência. Cada mulher elabora o seu enigma, particular e intransferível. Pode ser um convite para visitar a família no interior ou quando apresenta seu bichinho de estimação. É um questionário à paisana. Muitos marmanjos são descartados e não compreendem o motivo. O pé-na-bunda foi uma avaliação secreta em que ele deu a solução errada."

A moça do Snug Harbor

Algumas pessoas me perguntaram quem era a tal cantora que acompanhava o trio de Ellis Marsalis no show do Snug Harbor sobre o qual escrevi três posts atrás (aquela que nos brindou com Desafinado e Águas de Março). Custei a lembrar o nome da moça e acabei enviando um e-mail para a casa de shows para perguntar. Anota aí: Johnaye Kendrick. Se quiser saber mais, leia um perfil dela clicando aqui (em inglês) ou acesse o site pessoal dela clicando aqui.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

12 anos

São doze anos, baby. Não doze anos desde que nos conhecemos, mas doze anos em que voltamos a nos conhecer todos os dias. Sua razão e sua sensibilidade. Minhas vastas emoções e meus pensamentos imperfeitos. Verbo intransitivo...

Sensação gostosa ao reencontrar uma foto. Se não a primeira, por certo a segunda que fizemos juntos. 1998. A USP como ninho: coxia, estúdio, base para lançamento de foguetes. Antes de Londres, ainda. Antes de Araguaia e Marajó.
É bom ter você comigo, já lhe disse. E poder reafirmar, hoje e sempre, aquele "sim".

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Feijão com Lady Gaga


Acabo de chegar de Chicago. E já fui logo colocando um CD do Muddy Waters, adquirido uma semana atrás no Delta Blues Museum, em Clarksdale. Encravada no vale do Mississippi, a menos de uma hora de Memphis, Clarksdale é considerada o berço do blues e ficou especialmente famosa em razão de uma encruzilhada onde, supostamente, Robert Johnson teria firmado contrato com o cramulhão (o pé-preto, o sem-nome, o coisa-ruim) para se tornar o maior guitarrista do estilo nos anos 1930.


Passamos dois dias nos arredores de Memphis, onde também visitamos a mansão de Elvis, antes de pegar o trem para Chicago, a cidade do vento (segundo os americanos), dos gângsters (segundo Hollywood), dos arranha-céus (segundo os amigos da FAU) e do jazz moderno.

Estive pela primeira vez em Chicago em 2001, salvo engano, ao desdobrar uma passagem de volta de Detroit, onde cobrira uma feira de ciência e tecnologia para a revista ISTOÉ. Especialmente interessado em arquitetura na ocasião, dediquei meu único dia na cidade a percorrer os primeiros edifícios com mais de doze pavimentos do mundo, construídos nos anos 1880 e 1890 (após o grande incêndio que destruiu Chicago em 1871). Lembro de ter encerrado aquela tarde no 103- andar da Sears Tower, quando ela ainda perdia para o World Trade Center o título de maior edifício das Américas. Voltei agora, apenas para parabenizar a nova campeã.

Dessa vez, no entanto, não foi a arquitetura dos edifícios que chamou minha atenção, mas os maravilhosos monumentos e o invejável paisagismo do Grant Park, implantado à beira do Lago Michigan. Como uma espécie de Central Park, ou um Ibirapuera de Chicago, o parque reúne os principais museus da cidade, dezenas de barracas de cachorro quente e, nos fins de semana, famílias, casais de namorados e grupos de amigos ao redor de generosas cestas de piquenique. A porção mais ao norte, denominada Millennium Park, ainda não existia em 2001. Tampouco o Cloud Gate, a enorme escultura de alumínio em forma de feijão que reflete todo o skyline da Avenida Michigan e a nós mesmos em um jogo de imagens distorcidas, lúdicas e fascinantes.

O “bean” me arrebatou por quase trinta minutos e me fez ficar com raiva por estar sem a câmera. Voltei com ela à noite e ainda quis ir de novo, na manhã seguinte.

Esse turista que olha para cima no canto direito da foto abaixo sou eu, brincando de tirar fotos de mim mesmo.

Na sexta-feira, perto da hora do almoço, estranhei o intenso movimento de adolescentes nos arredores do Grant Park. Grupos enormes rumavam para lá, os rapazes de regatas e as garotas com shorts curtíssimos, quase sempre com garrafas de água nas mãos. Trânsito impedido, marronzinhos com apito na boca, cambistas vendendo ingresso, um som vindo lá do meio do gramado. Só então, tratei de me informar. Descobri que, de sexta a domingo, haveria ali um festival chamado Lollapalooza, que acontece todos os anos. O “Chicago Tribune” trazia o mapa dos oito palcos e a lista das atrações com os respectivos horários. Em um deles, a última atração da noite de sexta (começando às 20h, o que nos padrões brasileiros é quase uma temeridade) seria o fenômeno pop Lady Gaga. Simultaneamente, outro palco seria ocupado pelos Strokes. No sábado, os veteranos do Green Day. Explicava-se, assim, a profusão de camisetas regatas e shorts curtíssimos.

Como minha vibe era outra, aproveitei a mesma noite de sexta, a última das quatro que passei na cidade, para fechar com chave de ouro meu périplo pela terra do blues e do jazz. Por volta das sete, cheguei com minha irmã Maíra ao Buddy Guy’s Legends, casa de blues de propriedade do próprio Buddy Guy, onde esse monstro do blues moderno costuma dar uma canja de vez em quando. Ficamos pouco mais de uma hora ali, bebendo uma cerveja regional ao som de uma dupla de guitarra e teclado, até outra irmã, a Luanda, chegar. De lá, seguimos em direção ao Andy’s, uma casa de jazz com décadas de história, e jantamos ao som de um ótimo quinteto de fusion, formado por teclado, baixo (elétrico), bateria, trompete e trombone e liderado pelo trompetista Corey Wilkes. Finalmente, rumei sozinho para o Green Mills a uma hora da manhã, empenhando um restinho de energia em favor da obrigação de conferir de dentro a decoração da mais tradicional casa de jazz de Chicago, onde a turma de Al Capone costumava se reunir quando minha avó era uma mocinha. Piano, baixo, bateria e sax derramavam seu free jazz cheio de citações de bop e cool enquanto eu derramava uma pint de Guiness junto ao balcão.

O cenário do Green Mill não nega os filmes de gângsters: móveis de madeira de lei, fixos no chão, com estofado de veludo verde musgo, duas ou três colunas no meio do salão impedindo uma visão integral da banda e os impagáveis sofás em meia-lua junto à parede, onde se acomodam quatro ou cinco pessoas ao redor da mesa. E o balcão, um enorme aparador de madeira que se estende desde a entrada até vencer dois terços da casa, servido por um ex-hippie tatuado e uma mulher enorme, recém-saída de um western americano. Ao meu lado, quando minha pint já estava meio vazia (ou meio cheia, a contar pelo meu ótimo humor), sentou-se um deficiente visual, idoso, negro, de muleta na mão e óculos escuros, trazido até a banqueta por um funcionário da casa. Pediu birita à matrona do bar com jeito de habitué, possivelmente um velho músico de jazz que, um dia, soprou seu trompete ou dedilhou seu piano naquele mesmo palco. Só faltou levar a câmera.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Hurricane City

"I showed my tits in New Orleans". A frase, escrita em uma camiseta pendurada na vitrine de uma loja de souvenirs, não significava nada para mim. Não até eu fazer meu primeiro passeio noturno pela Bourbon Street. Da ampla sacada do hotel Sonesta, duas dezenas de rapazes debruçados sobre o beiral provocavam as garotas que passavam pela rua a exibir seus dotes. Quem topava a parada recebia como prenda um colar de contas, às vezes mais de um, atirado lá de cima pelos machos exaltados que, digamos assim, sentiam-se contemplados com o espetáculo. Logo uma cambada estrategicamente posicionada empunhava suas câmeras em direção às presas encurraladas (e invariavelmente sorridentes). I did the same.


A brincadeira ganha estímulos nos 30 graus da Lousianna, onde nem a noite arrefece o verão precaribenho. A brincadeira é democrática. Vi senhoras obesas, muito obesas, levantarem a camiseta e seguirem lépidas com seus colares. Outra passou de cadeira de rodas e precisou de ajuda para recolher os colares que cobriram o chão ao seu redor. Uma jovem beldade, de cabelos loiros e nariz arrebitado, não ficou satisfeita ao ganhar quatro colares e voltou a mostrar as "tits", dessa vez para a extremidade oposta da sacada, a fim de arrebatar mais dois ou três presentinhos. A moça na foto abaixo, a mais desenvolta de todas, custou a prender novamente o biquini, com tantos admiradores por perto.


O leitor dirá que, com essa roupa, a jovem acima só podia estar querendo ficar pelada. Eu explico: ela é hostess em um cabaré, uma das muitas casas de strip instaladas na Bourbon St. Como hostess, não tinha nada de perambular pela rua e abrir o biquini. Mas aposto uma jambalaia com quem duvidar que o gesto bastou para que ao menos um par de clientes fosse atraído para sua toca. Ah, esses inferninhos...


Contei umas dez casas do ramo em 600 metros de rua. Algumas mais clássicas, com um rapaz de terno posando de leão-de-chácara e uma ou duas garotas de corpo escultural fazendo as vezes de isca junto à entrada. Negras ou loiras, em sua maioria, para atender aos desejos mais pungentes dos turistas, sejam eles escandinavos ou sulamericanos.


Outras vezes, vale uma dancinha, um rebolado, um arremedo de poledance como canja, aperitivo.


As casas mais criativas investem em cenografia e chegam a colocar um balanço junto a uma janela, de frente para a calçada, onde a prata da casa se alterna em vai-vens convidativos. "Tá me esperando na janela, ai, ai / não sei se vou me segurar..."


As minhas preferidas, no entanto, são aquelas que anunciam "no cover", a ausência de couvert, desde o meio-fio. Melhor ainda quando uma gatinha cumpre o papel de homem-placa, distribuindo sorrisos entre cartazes luminosos de capas de revista e promessas de sexo explícito.


Esse erotismo tem tudo a ver com essa cidade portuária, de maioria negra e alto sincretismo religioso, onde a boa música popular americana se forjou e continua em construção. A mim, lembrou Salvador, com sua culinária peculiar, normalmente apimentada, sua forte tradição católica combinada à resistência do candomblé (aqui é o voodoo que sobrevive ao cristianismo batista), e a cena musical insuperável, em efervescência e em história.


A Bourbon St é o epicentro de tudo isso. Um bar colado em outro, quase todos com música ao vivo. Jazz (do dixieland ao cool), blues, country, rock e pop. Na maioria deles, basta comprar uma bebida.


Escutei muita coisa boa nos últimos dias. Um show de Jamil Sharif (acima), outro de Irving Mayfield, uma apresentação de um tradicionalíssimo conjunto de metais de New Orleans em um imperdível centro de cultura chamado Preservation Hall (abaixo).


Ali, o jazz também se espalha pelas ruas.


Nas esquinas, nos cafés e nos pontos de ônibus, varando madrugadas.


O ponto alto dessa imersão no jazz foi ter a oportunidade de conferir, na primeira mesa de uma aconchegante casa para shows intimistas chamada Snug Harbor, uma apresentação do mestre Ellis Marsalis, pianista septagenário conhecido como o primeiro patriarca do jazz por ter introduzido os quatro filhos na atividade, dos quais o mais conhecido é Wynton Marsalis. A apresentação em si, em um trio instrumental complementado por um baterista e um contrabaixista, já era de cair o queixo. Lá pelas tantas, sobe ao palco uma cantora excepcional, negra, jovem e radiante, com voz provavelmente curada em corais de igreja, e põe-se a cantar Desafinado, arriscando um português de imitação. Uma execução primorosa. Fiquei triste de as regras da casa não permitirem a produção de fotos. Terminada a canção, mundialmente conhecida na interpretação primorosa de João Gilberto, o grupo emenda um Águas de Março, dessa vez com letra em inglês. No final, mandei um "muito bom" da minha cadeira. A cantora arregalou os olhos, percebeu a presença de uma família de brasileiros a um metro de distância e sorriu encabulada. "Oh, no!" Sua benção, Tom Jobim.


New Orleans ainda se esforça para superar o baque do furacão Katrina, que inundou a cidade no início da década, e agora convive com outra calamidade, provocada por vazamentos de petróleo em sua costa. É uma cidade de gente corajosa, de fibra. Gente arretada que não se apoquenta com pouco.


Hurricane City (Cidade do Furacão) já virou apelido, visível em roupas, placas e lembrancinhas. Hurricane é também o nome de um coquetel servido em muitas casas, e até em barraquinhas nas ruas, como se fosse um capeta de Porto Seguro. Infelizmente, só agora me dou conta, deixei a cidade sem prová-lo, entusiasmado que estava com o baixo preço da Guiness e as convenientes doses de Jack Daniel's. Fica para a próxima, quando também lembrarei de montar meu estoque de colares de contas.

domingo, 25 de julho de 2010

Isso é jazz

Ontem passou na TV o filme O Terminal, aquele em que Tom Hanks interpreta um cara da Cracóvia que chega a Nova York com uma latinha de amendoim para lá de suspeita e é impedido de entrar no país. Após semanas morando no aeroporto, ele finalmente nos revela a razão da viagem e o conteúdo da latinha. Ali dentro há dezenas de autógrafos, obtidos por seu pai junto aos mais renomados músicos de jazz dos Estados Unidos. Acontece que o pai morreu sem completar sua coleção de autógrafos. Ele havia guardado uma foto, feita no Harlem e publicada na revista Esquire em 1959, na qual o fotógrafo Art Kane clicou 57 músicos de jazz juntos, entre os quais Count Basie, Dizzy Gillespie, Lester Young, Thelonious Monk, Gerry Mulligan, Sonny Rolins... Ficou faltando apenas um autógrafo, o de Benny Golson, músico-residente em um hotel de Nova York. E Viktor Navorski, o personagem de Tom Hanks, decide viajar para concluir a missão à qual o pai havia dedicado mais de 40 anos. Em determinado momento do filme, perguntam a ele o que há na latinha. A resposta é breve e verdadeira: "Isso é jazz", ele diz.

Art Kane juntou 57 astros do jazz em 1959.
A foto foi publicada na Esquire


Sempre gostei desse filme. Ontem, o assisti pela quarta vez. Seu significado foi mais intenso agora porque amanhã, veja você, embarco para os Estados Unidos a fim de cumprir a rota do jazz. Vou passar quatro dias em New Orleans, dois dias em Memphis e outros quatro em Chicago, disposto a ouvir o máximo de trompetes, saxofones e pianos que conseguir. Quarta-feira à tarde, estarei caminhando pela Bourbon Street. Conhecerei o French Market, provarei do autêntico tempero cajun. Ouvi dizer que Ellis Marsalis toca toda quinta em um espaço para 90 pessoas e já fiquei com os dedos coçando (essa costuma ser minha reação psico-somática em momentos de ansiedade ou entusiasmo).

A Bourbon Street faz meus dedos coçarem
(foto: Cosmo Condina/NewOrleansOnline.com)

Farei uma viagem em família. Meu pai completou 60 anos há pouco tempo e, entre promover uma festa para 300 pessoas e investir uma grana preta em um porsche, uma harley ou qualquer outro desses brinquedinhos que costumam seduzir homens de meia idade, optou por convidar a mulher e os quatro filhos para dar um passeio. Fiz as contas e percebi que a última vez que viajei com meu pai e minhas irmãs foi há 13 anos. Ainda tenho as fotos daquele janeiro, no qual minha cabeça estava careca por conta do vestibular. Definitivamente, esta será uma experiência e tanto.

Que segredos guarda o Frech Quarter?
(foto: GNOTCC, Ron Calamia/NewOrleans.com)


É provável que eu deixe de lado a blogosfera durante a jornada. Será algo inevitável. Estarei certamente muito ocupado entre a música e o Mississippi. "The moonlight on the bayou, a creole tune that fills the air...", como na letra da belíssima Do you know what it means to miss New Orleans.



All I ask you in this moment is... torça por mim! A gente se fala na minha volta, daqui a duas semanas. Oh, yeah!

sábado, 10 de julho de 2010

Como nasceu o Morumbi

Sou do time que ainda torce para ver a abertura da Copa de 2014 no Morumbi. Talvez por ser são-paulino e guardar boas lembranças do estádio, onde estive pela primeira vez quando Cilinho comandava o jovem ataque formado por Müller e Careca e aonde voltei para conferir a maestria de Telê Santana nas Libertadores de 1992 e 1993. Talvez porque encare com certa desconfiança a viabilidade de se erguer, em tão pouco tempo, um estádio totalmente novo em Pirituba - e ainda equipá-lo com avenidas, metrô, linhas de ônibus, estacionamentos e demais serviços. Por mim, prefiro torcer para que o São Paulo consiga viabilizar junto à iniciativa privada o projeto de reforma que o habilitará a seguir como representante da capital paulista no próximo mundial. E para que o Ricardo Teixeira, se não puder ajudar, que pelo menos pare de atrapalhar.

Projeto de reforma para a Copa de 2014

Contei a história do estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, na mais recente edição da Revista Época São Paulo. Para escrever a reportagem, visitei algumas vezes o clube, li diversas publicações que noticiaram sua construção a partir de 1952, tive a oportunidade de ver dezenas de fotografias daquele período e conversei com muita gente que fez parte da sua história, como o ponta-direita Peixinho, autor do único gol marcado na partida de inauguração (o São Paulo venceu o Sporting de Lisboa por 1 X 0 em 2 de outubro de 1960), e o ex-governador paulista Laudo Natel, presidente do São Paulo de 1958 a 1972. Aos 89 anos, Natel continua indo diariamente a seu escritório na Rua Nestor Pestana. Em sua sala, junto a uma réplica do estádio e a uma bandeirinha do clube, o fundador do Bradesco e patrono tricolor parece ansioso com o jogo de empurra da CBF. "A Fifa quer um estádio para 60 mil pessoas, que esteja perto de hospitais, do aeroporto, do metrô e de hotéis", disse Laudo Natel. "Que lugar atende a essas exigências? E quem construirá um novo estádio, uma vez que as três esferas de governo já anunciaram que não colocarão dinheiro nisso?"

Laudo Natel também torce para ver o campo na Copa

Filho de uma arquiteta e marido de outra, confesso que, no processo de apuração, o que mais despertou minha curiosidade foi descobrir, na biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, algumas plantas originais, em grande formato, desenhadas em nanquim sobre papel vegetal pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas, autor do projeto do estádio. Outros desenhos, como um corte lateral das arquibancadas e uma planta da implantação do clube, encontrei em uma edição de 1953 da Revista Habitat, também na biblioteca da FAU. Os arquivos da faculdade guardam também fotografias da maquete apresentada pelo SPFC à imprensa no início daquele ano. São essas imagens, feitas em um tempo alheio a AutoCad e Powerpoint, que eu apresento a seguir.

Implantação do clube no terreno


Planta baixa do estádio


Elevação da arquibancada


Seção lateral da arquibancada


Maquete apresentada em 1953


Outra foto da maquete de 1953