domingo, 2 de agosto de 2009

À Deriva

Fui assistir ao filme do Heitor Dhalia. Saí da sala encantado com a atuação de Laura Neiva. Em seu primeiro papel no cinema, a jovem interpreta a protagonista Filipa, uma garota de 14 anos que, em férias na praia, descobre que seu pai tem uma amante. Testemunha da iminente separação de seus pais - envoltos em uma crise conjugal sem intervalos nem perspectivas -, a menina se convence de que o motivo do distanciamento entre os dois é a tal namorada (só pode ser, não há outra explicação!) e, com a intensidade característica da adolescência, prontifica-se a fazer o possível para salvar o casamento.


As ondas do mar de Búzios conduzem o rito de passagem de Filipa. Aos 14 anos, à deriva como sugere o título, a garota conhece não apenas o amor, o ciúme e o sexo (apresentados a ela não necessariamente pelo mesmo parceiro), mas todo um arsenal de sensações e armadilhas que um casamento (um coração?) é capaz de encerrar. Através do olhar de Filipa, o espectador entende que o "motivo" do distanciamento entre pai e mãe não é aquele que supunha, até porque um casal não precisa de "motivos" para se distanciar. Através do olhar de Filipa, o espectador descobre que não há culpados e vítimas no instável jogo das paixões. Não há bandidos e mocinhos. Tampouco vencedores e vencidos. Através do olhar de Filipa, o espectador aprende que amor é brincadeira de adultos. E mesmo os adultos costumam se queimar...

Fui assistir ao filme do Heitor Dhalia sem saber exatamente qual a trama. Confesso ter ficado um pouco constrangido quando me dei conta do tema. Casado há cinco anos, experimentei recentemente minha primeira grande crise conjugal - e ainda tenho agido, às vezes, como quem pisa de leve para testar a segurança do terreno antes de transferir o peso e concluir o passo. Convidar Aline para ver um filme sobre a agonia de um casamento certamente não foi a atitude mais prudente que eu poderia ter tomado numa noite de sábado. Mas é na imprudência que reside o fascínio do autêntico, do visceral, do inesperado. Em alguns momentos, durante a sessão, nossos olhares se cruzaram como se dissessem um ao outro: "tá tudo bem aí?", "sim, tudo certo, não se preocupe". Permanecemos na sala até subirem os créditos, o que pode ser interpretado como uma espécie de vitória. E, para ser sincero, fazia tempo que não nos abraçávamos com tanta força durante a exibição de um filme. Bom sinal. Embora, para mim, o amor continue sendo brincadeira de adultos.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog! Sei que demorei um pouquinho para postar um primeiro comentário... Sorry! Mas, como nunca é tarde, e agora que o meu nome apareceu aqui, achei que era um momento oportuno. Você tem toda razão, amor é brincadeira de adultos de verdade. E o filme é mesmo meio desconfortável, com ou sem crise conjugal. Mas acho que é exatamente aí que está sua graça. Bjo

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  2. "é na imprudencia que reside o fascinio do autentico, do visceral, do inesperado"... obrigada por matar uma charadinha que me apoquentava ha semanas, Camilo. O blog ta cada vez melhor. Sempre um prazer ler o senhor...

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