sexta-feira, 17 de julho de 2009

Cada país tem o Duque que merece

Dia desses ouvi alguém comentar sobre o desgaste da fórmula de humor praticada há tanto tempo pelo Casseta & Planeta. Anos atrás, diversos amigos jornalistas faziam questão de assistir ao programa toda semana. E chegavam à redação no dia seguinte comentando as melhores piadas da noite, as mais lapidares ironias. Esse fascínio acabou, não apenas em razão da incapacidade do grupo de se reciclar, mas também em decorrência de certo sucateamento a que o programa parece ter sido condenado após sucessivas reformulações propostas pela emissora e, é claro, a perda de seu líder mais conhecido. Outro motivo, no entanto, parece-me especialmente razoável para justificar a derrocada da sátira política como espetáculo humorístico.
Refiro-me ao fato de o próprio universo político ter se transformado em freak show, enquanto as instituições públicas convertem-se, paulatinamente, em um picadeiro muito mais fértil do que poderiam imaginar os mais criativos saltimbancos.
Não é à toa que o Congresso seja chamado frequentemente de "circo", inclusive pelos micos amestrados que perambulam por ali. E, a fim de promover a renovação sistemática do público e evitar-se a mesmice, a cada temporada surge um novo astro: um exímio atirados de facas, um destemido comedor de espadas, uma incauta mulher barbada recém-saída da Bulgária.
Houve a temporada do trem da alegria, a marcha dos anões, a hora da dancinha... Teve parlamentar de olho roxo, senador-crooner cantando folk em plenária, morte e vida severina na presidência da Câmara... Agora é a vez de um duque chamar para si os holofotes. Um duque recém-chegado sabe-se lá de onde para presidir o Conselho de Ética do Senado, uma espécie de clube do bolinha responsável por escolher os ingredientes, sovar a massa, abrir a redonda e servir a fumegante pizza do Sarney.


Paulo Duque (PMDB-RJ) chegou à Casa como segundo suplente do hoje governador fluminense Sérgio Cabral. Não recebeu votos, não fez promessas de campanha, age como se não tivesse contas a prestar com o eleitorado (até por não ter um). Assumiu o cargo indicado por Renan Calheiros, mais um cacique do mesmo partido de Duque e, é claro, Sarney. Já em suas primeiras declarações públicas, desacreditou as denúncias feitas contra o correligionário, disse que os atos secretos eram uma bobagem e esculhambou a opinião pública. "A opinião pública é muito volúvel", ele disse. "Não temo ser cobrado por nada. Quem faz a opinião pública são os jornais, tanto que eles estão acabando". Sobre a contratação de parentes, foi igualmente blasé: "Nomeações políticas sempre existiram, desde que o Brasil é República".
Tudo indica, pelo programa vendido na porta do teatro, que o final da peça é aquela que todos imaginam. Quando um servidor assume um cargo no qual deveria atuar com isonomia, como um juíz, e desanda a emitir opiniões pessoais logo de saída, acontece o que na Fórmula 1 convencionou-se chamar de "queimar a largada". É pena que, debaixo da tenda e acima da serragem, malabaristas e equilibristas prefiram fingir que nada veem. Pior para a nação, melhor para a farsa. Deixa o duque atuar à sua maneira!

Um comentário:

  1. O que mais me assusta é perceber que as frases de Duque, apesar de absurdas, fazem sentido. É mesmo verdade que muita coisa errada está aí desde que o Brasil é República. Faz parte de uma cultura arraigada, como um mal cheiro que impregna e não sai com pouco sabão. Mudar? É como tentar tirar os ossos suculento de uma matilha feroz e violenta...

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