segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Capital da esperança

Beija-flor no Rio, Tom Maior em São Paulo. Duas belas escolas irmanadas no tema escolhido para o carnaval deste ano: os 50 anos da inauguração de Brasília. Sonho de Juscelino, transposto para o papel pela lapiseira de Lúcio e ornamentado com a arte curvilínea de Oscar, Brasília é Atlântida onírica: dama do cerrado encravada no Planalto, construída por candangos da planície para representar um projeto de nação, consagrar a coragem criativa do homem brasileiro e apontar o futuro. Capital da esperança, conforme o axioma reproduzido nos sambas-enredos das duas escolas. "Orgulho, patrimônio mundial", comemora a letra da Beija-flor (imagem do desfile na foto abaixo). "A imagem da modernidade", celebra um verso da Tom Maior.


O pesar diante da real vocação de Brasília, aquela que se verifica todos os dias, se avoluma ao toque dos surdos e tamborins. Passados 50 anos, Brasília não confirmou as expectativas nela depositadas, nem deve confirmar tão cedo. É triste, para um brasileiro que comparece às urnas e admira o desenho daquela cidade, acompanhar a evolução de tantas alegorias, cantarolar o samba diante da televisão e registrar a cadência de belas cabrochas quando um governador permanece preso, com habbeas corpus negado, e o vice não tem legitimidade sequer para assumir o posto. É triste aguardar um cinquentenário desses quando maços de dinheiro são distribuídos por bolsos e roupas, as mais diversas, com a desenvoltura de quem parece entender do riscado. É triste observar a capital da esperança assim, tão jururu.
Que esse inferno astral termine logo.

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