domingo, 6 de setembro de 2009

Revidar pode, senhor gerente?

Sexta-feira, 4 de setembro, 8h05.
Uma mensagem com o título Camilo urgente surge no alto do meu Gmail. É do editor Cláudio Brites, da Editora Terracota, que publicou o livro Território V, organizado por Kizzy Ysatis:
"Camilo, espero que leia este e-mail rápido.
Kizzy estava em uma balada, A Loca, com a Liz Vamp.
E por conta de problemas que eu ainda não entendi, ele foi espancado e a Liz também. Segundo ele, chegou a perder dentes, está bem mal.
Ele queria saber se você, como repórter, não pode ir, ou mandar alguém ir lá fazer essa denúncia, registrar isso.
O celular dele é XXXXXXXX. O meu XXXXXXXX.
Abraços,
Cláudio Brites"


Em quinze minutos, eu teria de sair para uma pauta. E ainda estava de pijamas. O máximo que consegui fazer, naquele momento, foi mandar um torpedo para um conhecido do JT, a primeira pessoa que me veio à cabeça, contando o episódio e fornecendo os telefones. Passei o resto do dia na rua, em três reportagens diferentes, torcendo para pintar um intervalo que me permitisse ligar para o Kizzy. Quando consegui, o celular dele já estava desligado, provavelmente sem bateria.
Antes disso, mais ou menos na hora do almoço, no meio de um congresso de coloproctologia (afe!), atendi a um telefonema do irmão dele. Kizzy fazia exames na Santa Casa de Misericórdia. Esmurrado pelos seguranças da boate por volta das seis e meia da manhã, perdera um dente e exibia hematomas por todo o rosto. Liz Vamp, sua amiga, também fora agredida. A origem do conflito fora uma prosaica confusão na hora de pagar a conta: o funcionário dizia que ele ainda não havia quitado sua despesa, enquanto o cliente afirmava ter pagado, em dinheiro vivo, minutos antes.
Kizzy não é do tipo que leva desaforo pra casa. Nem do tipo que abaixa a cabeça para evitar barracos ou constrangimentos. Ele grita, se for preciso, e roda a baiana com a altivez de quem conhece seus direitos e exige respeito. Imagino que os seguranças da casa, beneficiados pela plateia viciada (àquela hora, quase que exclusivamente formada pelo staff do estabelecimento e parcos fregueses cativos), devem ter proferido as habituais grosserias de quem aprendeu nos tempos de corporação a fazer da violência física sua mais preciosa qualidade. E ouviram, provavelmente, uma resposta à altura - uma resposta inteligente e sagaz, daquelas que desmontam qualquer argumentação que não seja edificada com a mesma inteligência. Nessas horas, a alternativa é espancar. Isso essa gente faz com maestria.
Não foi a primeira vez que ouvi o relato de que um conhecido meu tivesse levado socos de seguranças da Loca. Lembro de uma história parecida, envolvendo um amigo jornalista, que uns seis ou sete anos atrás teria sido expulso aos murros sob a acusação de ter consumido maconha ali dentro ou qualquer coisa parecida. O fato é que, no final da tarde de sexta-feira, a notícia da agressão a Liz (cineasta, filha do José Mojica Marins) e ao Kizzy (o escritor Cristiano Marinho) já havia se espalhado. Estava no G1, no Uol, no Terra, na Folha Online. Em muitas das notas publicadas, constava a informação de que, ao prestar depoimento na delegacia, o gerente da casa teria afirmado que apenas revidara as agressões dos clientes. Revidar pode, senhor gerente? E revidar a que tipo de agressão? Revidar com socos e pontapés a uma afronta verbal? Ou foram os clientes que partiram antes para a violência física? Porque, se for esta a sua versão, ela não se sustenta, meu caro. Por certo o senhor não conhece o Kizzy.
Eloquente e intenso, muitas vezes grandioso em seus gestos e em seus arroubos literários, Kizzy é uma moça, um pássaro no sereno, gentil e delicado como apenas os poetas conseguem ser. Provavelmente, seus funcionários revidaram ao timbre firme com o qual o tal cliente denunciava a incompetência de uma casa que não consegue saber quem pagou e quem não pagou a comanda. E o fizeram do jeito que lhes pareceu mais apropriado: combatendo palavras com escoriações. Talvez os seguranças tenham se excedido um pouquinho. Talvez. Ou então, os hematomas e a fratura craniana sofridos pelo Kizzy sejam respostas à altura dos impropérios que o cliente, eventualmente, possa ter lhes berrado. Revidar pode, não é mesmo? Foi o senhor mesmo quem falou.
Bom, quem quiser ler o que o próprio Kizzy tem a dizer sobre o episódio - e tiver estômago para conferir, em imagens, o estado em que ele ficou após os golpes - acesse seu blog: http://kizzyysatis.blogspot.com. Triste o lugar em que corremos o risco de ser agredidos justamente por quem deveria zelar pela nossa segurança, nossa integridade.

Um comentário:

  1. Pelas fotos se percebe o tamanho da agressão ocorrida.

    http://www.kizzyysatis.blogspot.com

    http://themaozoleum-noticias.blogspot.com/2009/09/liz-vamp-e-agredida-durante-seu.html

    e em video : http://www.youtube.com/watch?v=IQ708fhCc7U


    Nada justifica esse ato..e nada justifica também que até agora ninguem...mas ninguem da casa tenha se posicionado à respeito.

    Independente de serem nomes conhecidos da nossa cena, são pessoas...que merecem respeito...inclusive de todos aqueles que já participaram com ela de eventos...

    Estou ainda aguardando que muitos outros profissionais (djs, organizadores etc) se posicionem, visto que nenhuma casa noturna tem esse direito junto ao seu público.

    Estou divulgando em todas as comunidades que possuo acesso no orkut e enviando e-mails ao site da A Loca...enfim, fazendo a minha parte.

    ResponderExcluir