sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O funcionário mais antigo

O metrô de São Paulo completou 35 anos de operação comercial no dia 14 de setembro. Fui à estação Paraíso conferir o palanque armado pelo Governo do Estado para comemorar a data. O povo do palácio dos Bandeirantes está em polvorosa com o assunto. Até o ano que vem, afinal, o metrô promete inaugurar nove estações: Sacomã, Vila Prudente e Tamanduateí, na linha verde, e Luz, República, Paulista, Faria Lima, Pinheiros e Butantã, na esperadíssima linha amarela.


De olho nas eleições de 2010, uma penca de deputados, estaduais e federais, perfilou-se ao lado de Serra e Kassab para aparecer nas fotos oficiais. Dali, todos puderam ouvir quando o mestre de cerimônias chamou ao tablado o funcionário mais antigo ainda em atividade na Companhia do Metropolitano de São Paulo para receber uma homenagem das mãos do governador.
Fiquei entusiasmado com a possibilidade de entrevistá-lo. Em qual setor ele trabalharia? Qual seria o número de matrícula e a data de admissão daquele simpático senhor? Que histórias guardaria do tempo em que o bilhete custava Cr$ 1,50 e toda a malha viária da cidade se resumia aos 7 quilômetros que separam as estações Jabaquara e Vila Mariana, as primeiras a serem inauguradas?
Atravessei a claque para me aproximar do personagem, que já descia pela extremidade oposta à que eu estava. Meio esmagado no meio do público, gesticulava para chamar a assessora de imprensa e solicitar uma entrevista com o cara quando ouvi um diretor do metrô reclamar com uma das responsáveis pelo cerimonial:
- Pô, sacanearam o Tizzle. Ele podia ter falado "um dos funcionários mais antigos", e não "o funcionário mais antigo".
Cheguei mais perto para assuntar. De bloquinho na mão, a moça fez que não entendeu e pediu explicações.
- Ora, o funcionário mais antigo em atividade é o Ernesto Tizzle, você sabe. Ele é do meu departamento. Mas não pôde vir porque está de férias em Natal. Chegou a ser convidado para esse evento, mas já havia comprado as passagens.
Me apresentei ao diretor e perguntei se ele podia me ajudar a entrar em contato com o tal Ernesto, mesmo que por telefone, durante as férias. Mas logo a assessoria de imprensa se acercou da gente e, pelos olhares, notei que havia baixado a censura.
- Não sei, fica difícil, ele está de férias, não tenho o celular...
Voltei para a redação pensando nesse homem. E também no colega que, a pedido da direção ou da gerência da empresa, obriga-se ao papel de se fingir de "mais antigo" a fim de garantir à macacada o benefício dos confetes. Provavelmente, o cara é o segundo ou o terceiro na linha sucessória, membro honorário do conselho dos anciãos. Não precisava ser obrigado a isso...
Um homem é rapidamente esquecido, veja você. Basta sair de férias. O outro vira ícone, é entrevistado, posa para fotos e sai nos jornais. A notícia em primeiro lugar! Ou a campanha eleitoral, dependendo do ponto de vista.

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