terça-feira, 15 de setembro de 2009

Ótimo pra embrulhar peixe

Contribuição de Mario Benedetti, descoberta ontem em seu belo A Trégua. O parágrafo, aplicado à realidade uruguaia, nos torna menos solitários e surpresos perante o espasmo editorial que sentimos ao ler, diariamente, a Folha, o Estado, o Globo, o JB, o Diário... não necessariamente nesta ordem:
Há dias em que compro todos (os jornais). Gosto de reconhecer suas constantes. O estilo de cabriola sintática nos editoriais de El Debate; a civilizada hipocrisia de El País; a maçaroca informativa de El Dia, só aqui e ali interrompida por uma ou outra alfinetada anticlerical; a robusta compleição de La Mañana, vaquinha de presépio que só ela. Como são diferentes e como são iguais! Entre eles, jogam uma espécie de truco, enganando uns aos outros, fazendo-se sinais, trocando de parceiros. Mas todos se servem do mesmo maço, todos se alimentam da mesma mentira. E nós lemos, e, a partir dessa leitura, acreditamos, votamos, discutimos, perdemos a memória, esquecemos generosa e cretinamente que eles hoje dizem o contrário de ontem, que hoje defendem ardorosamente aquele de quem ontem disseram coisas terríveis, e, o pior de tudo, que hoje esse mesmo aquele aceita, orgulhoso e ufano, essa defesa.

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