quarta-feira, 17 de março de 2010

Um poste no caminho

Pesquisa CNI/Ibope divulgada hoje coloca Serra com 35% dos votos e Dilma com 30%. Finalmente, a disputa eleitoral começa a esquentar, prometendo boas derrapagens e alguns acidentes no meio do caminho. Faz lembrar os melhores momentos de Senna e Prost - embora não dê para saber quem é o Senna e quem é o Prost na corrida que ora se apresenta. Os carros ainda estão longe da reta de chegada, mas já dá para sentir a catimba e as armadilhas que um reserva para o outro.

Intenção de voto estimulada para Presidente (CNI/Ibope)
Sabe quando um carro de corrida aproveita o vácuo para pegar embalo na cola do adversário? Numa pesquisa eleitoral, o mesmo princípio ganha o nome de empate técnico. Cinco pontos percentuais atrás de Serra, a candidata do presidente Lula ainda não pode se considerar empatada com o líder da oposição (a pesquisa tem margem de erro de dois pontos para baixo e para cima). Mas ninguém duvida que o empate deve pintar em breve. Por enquanto, os números do Ibope ratificam o resultado divulgado recentemente pelo CNT/Sensus, cuja pesquisa dava seis pontos de vantagem para o governador paulista. E ratificam, também, o caráter plebiscitário, com jeitão de referendo, esperado para a eleição deste ano. Os índices do voto espontâneo, etapa da pesquisa em que o entrevistado revela seu candidato sem ver a lista de nomes, são ainda mais surpreendentes no que se refere ao desempenho da ministra da Casa Civil. Pela primeira vez, ela foi mais lembrada do que o concorrente mais próximo:

Intenção de voto espontânea para Presidente (CNI/Ibope)
Mais uma vez, Luiz Inácio Lula da Silva aparece no topo - um detalhe que não diz muito diante do histórico brasileiro de transmissão de votos, mas que indica os píncaros a que Dilma pode chegar, dependendo de sua autonomia de voo. Autonomia, no caso, está longe de ser a qualidade mais forte da candidata. Pelo menos é assim que a imprensa e o próprio Partido dos Trabalhadores têm buscado caracterizá-la, talvez de maneira proposital, induzida, como estratégia para fazer colar a imagem de continuadora mecânica: uma espécie de Lula de saias que celebrará a missa conforme a cartilha de seu mestre. "Com Dilma, pelo caminho que Lula nos ensinou", dizia um painel gigantesco fixado ao fundo da tribuna que confirmou a candidatura da ministra no mais recente congresso nacional do PT. Episódios como esse ajudam a disseminar a ideia de uma candidata sem sal, sem visão e sem projetos. Uma sombra fadada ao fracasso como foram Luiz Antonio Fleury Filho (sucessor de Orestes Quércia no governo do Estado que acabou marcado pelo massacre de 111 detentos na penitenciária do Carandiru) e Celso Pitta (prefeito de São Paulo conhecido pelo escândalo dos precatórios e outras denúncias de corrupção). Até outubro, tudo indica que muito falatório será gasto para dirimir essa dúvida: a situação tentando mostrar que Dilma tem estofo e história; a oposição tentando tachá-la de poste - como bem abordou reportagem de capa da revista Época. Do alto de seus 83% de aprovação, Lula acompanha a briga com ar confiante, certo de que a (sua) esperança vencerá o medo (de Serra).

Aprovação do Presidente Lula (CNI/Ibope)
Até agora, o candidato do PSDB não deslanchou. Nem assumiu a candidatura, apesar de reafirmar nos bastidores seu compromisso com a tarefa. A essa altura do championship, trocar a disputa federal pela reeleição estadual seria uma espécie de suicídio político, coisa que ele não fará. O noticiário tem batido na tecla de que ele só espera o lançamento do novo PAC para se lançar, uma estratégia para que seu anúncio não seja ofuscado pela oponente mais forte. Agora, se Lula vencer o desafio de colar sua imagem na de Dilma, como já parece ocorrer, será preciso um golpe de sorte para que nada ofusque seu esperado anúncio. Especialista em emplacar axiomas nas manchetes dos jornais, ao defender o regime castrista ou apresentar ao planeta um inédito "vírus da Paz" (que ele teria contraído no útero materno), só mesmo um acordo de cavalheiros firmado com a cúpula do PSDB poderá conter, por um dia ou dois, a incontinência verbal de "Santo Lula". Aguardaremos.

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