terça-feira, 23 de março de 2010

Para que serve o dedinho?

Dez dias com um dedo quebrado. Justamente o dedinho, o menor de todos, bem ali no meu pé esquerdo. Dez dias com o pé enfaixado, sem colocar sapato ou tênis, desviando das pedras e dos móveis com o mesmo cuidado que têm as meninas quando acabam de fazer as unhas. Para tomar banho, calço um saco plástico, prendo com um elástico e pronto. Dez dias com preguiça de tomar banho...
Irritado com tanta restrição de movimento, sem poder dirigir nem andar longas distâncias, lancei no Facebook uma enquete para descobrir qual a serventia do dedinho. Minha desconfiança inicial, uma espécie de teoria que eu buscava comprovar, era de que o dedinho só serve mesmo para topar na quina da cama (principalmente quando a gente chega da balada). E para quebrar, é claro, mesmo em uma situação tão ridícula quanto a minha, após um escorregão na banheira. Lancei a pergunta e um amigo me abriu os olhos. "Pense que talvez seja algo que te equilibra e te derruba, dependendo do teu mundo", escreveu Pucci, um jovem psicólogo que, às vezes, diz coisas com sentido.
Pus-me a pensar no assunto. Poucas coisas têm tamanho poder, de nos equilibrar ou derrubar, conforme a ocasião. E jamais imaginei que isso pudesse vir de algo tão insignificante quanto um dedinho do pé. O amor, sim, é coisa que tem esse dom. O trabalho, talvez. O uísque, diria um amigo meu. Passei a lidar com meu dedo quebrado como se ele fosse uma mulher, a um só tempo melindrosa e graciosa: uma ausência inseparável ou uma presença distante, pronta para me equilibrar ou derrubar conforme meu comportamento. Uma mulher implicante, cheia de manias e exigências, mas que merece meus melhores cuidados. Uma mulher que abusa da minha paciência, que me prende e persegue, mas que é parte de mim como a palheta no bocal do trompete. Gosto mesmo quando ela me equilibra, embora haja sempre a hipótese de ser derrubado por ela.
Tomara que meu dedinho fique bom logo.

Um comentário:

  1. O seu, quebrado, serve para encontrar uma amiga motorista que passa no farol amarelo e se desespera nas ruas íngremes de perdizes. Serve também para você deixar de ser tão irritantemente auto suficiente. E para lembrar que estarei por perto sempre. Vamos marcar um futibas na volta da minha viagem, hein? Beijão

    ResponderExcluir