quinta-feira, 7 de abril de 2011

"Já tinha levado choque no ânus, vagina, nos seios, nos ouvidos, dentro da boca"

No post anterior, expus minha expectativa em relação à nova novela do SBT, "Amor e Revolução". Como era de se esperar, em razão do histórico do canal, o folhetim está longe de ter a qualidade desejável em uma produção do gênero. Edição (ainda) capenga, atuações (ainda) pouco convincentes, texto (ainda) cheio de estereótipos. Mas uma iniciativa merece, desde já, o respeito de qualquer brasileiro afeito à memória da nação e à defesa dos direitos humanos. De maneira corajosa, a direção da novela optou por encerrar todos os capítulos com depoimentos de ex-presos políticos, torturados nos porões da ditadura. A proposta segue o modelo inaugurado por Manoel Carlos nas novelas da Globo, mas tem a ousadia de ir além do sensacionalismo e assumir ares de denúncia, num momento em que a sociedade se divide ao discutir a melhor maneira de lidar com o tema, 47 anos após o golpe de 1964.


Na terça-feira, noite de estreia, quem prestou testemunho na TV foi Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha. Militante do PCdoB, ela atuava na clandestinidade em São Paulo quando foi presa, em 1972, com o marido César, os filhos Janaína (então com 5 anos) e Edson (com 2 anos), e a irmã Criméia, grávida de oito meses (ela daria à luz na prisão). Por dez dias, foi torturada de todas as maneiras, diante dos olhos dos filhos.


No capítulo de quarta-feira, conhecemos a história de Jarbas Marques. Jornalista e historiador, ligado também ao PCdoB, ele foi detido já em 1967, passou dez anos preso, serviu de cobaia para aulas de tortura e viu companheiros de cela enlouquecerem.


Ao menos por enquanto, a dica é sintonizar no SBT no finalzinho da novela e esperar para conferir o relato do dia. Vale mais do que muita aula de história ministrada por aí.

Um comentário:

  1. OI Camilo!
    Deviam dar um jeito também de dar voz aos que foram mortos na prisão para que nós possamos hoje ter o direito de votar e de aspirar viver em uma democracia. Talvez através de alguém contando suas histórias, ou de seus filhos. Conheço uma pessoa muito próxima de mim que teve a mãe torturada grávida e o pai morto pela ditadura. Não foi apenas a vida do pai que os criminosos roubaram. Foi toda uma vida de uma família que não teve a chance de existir. Foi um pai que a filha não conheceu. Isso não pode ser esquecido nunca. E é por essas e por outras que me revolto quando ouço alguém dizer que não quer saber de política ou que não quer votar. Essa gente sofreu muito para nos garantir esse direito. Votar nos tiriricas além de desrespeitar nossa sociedade democrática, é cuspir na memória dos que lutaram pelo nosso direito de voto e expressão...
    Bjs!
    J

    ResponderExcluir