segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O bom combate

Não dá para ganhar todas, diz a sabedoria popular (ou pelo menos a intuição popular). Pena que perder seja tão chato. E triste. Principalmente para quem, em razão da sorte ou da persistência, coleciona mais vitórias do que derrotas. Na hora de contar os mortos e dimensionar os danos, é sempre bom lembrar o poder construtivo das derrotas. Mais do que nos derrubar, elas nos ajudam a olhar para trás com humildade, reconhecer equívocos, entender melhor a conjuntura e prospectar possibilidades. Bravos são aqueles que concebem a derrota como intervalo criativo, contratempo em samba sincopado, ano sabático merecido entre uma vitória e outra.



Diante da iminência de uma importante derrota no campo pessoal - e acompanhando de perto a iminente derrota, desta vez no campo ideológico, de uma pessoa próxima a mim - tenho pensado em como é penosa essa história de transformar perda em bônus. Renascer das cinzas como fênix. Brotar da lama como flor-de-lótus. Pensativo, busco respaldo no legado deixado por pessoas mais inteligentes do que eu e tento aprender com o poema em linha reta ("todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo") e com a carta de Paulo a Timóteo ("combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé").

Principalmente, transformo em espada os versos cantados por Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro na canção Mordaça para cravá-la, verdade maior, acima de derrotas e vitórias: "o importante é que a nossa emoção sobreviva".

Tudo o que mais nos uniu separou.
Tudo que tudo exigiu renegou.
Da mesma forma que quis recusou.
O que torna essa luta impossível e passiva?

O mesmo alento que nos conduziu debandou.
Tudo que tudo assumiu desandou.
Tudo que se construiu desabou.
O que faz invencível a ação negativa?

É provável que o tempo faça a ilusão recuar.
Pois tudo é instável e irregular.
E de repente o furor volta,
o interior todo se revolta
e faz nossa força se agigantar.

Mas só se a vida fluir sem se opor.
Mas só se o tempo seguir sem se impor.
Mas só se for seja lá como for.
O importante é que a nossa emoção sobreviva.

E a felicidade amordace essa dor secular,
pois tudo, no fundo, é tão singular.
É resistir ao inexorável,
o coração fica insuperável
e pode, em vida, imortalizar.

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