domingo, 9 de outubro de 2011

Tempo de espanar as prateleiras

Esse é o nome do show a que assisti ontem, na Casa de Francisca.
É também um verso de uma das canções incluídas no repertório, composta com o parceiro Vicente Falek e cantada por Ilana Volcov.

"(...) Tempo de espanar as prateleiras
Tempo de trocar as fechaduras
Tempo de podar as trepadeiras
Tempo de dobrar as partituras (...)" 

Letrista bissexto, tive pela primeira vez a deliciosa sensação de ouvir minhas próprias composições interpretadas num palco. E não em qualquer palco, mas no charmoso (embora apertado) palco da Casa de Francisca, um dos melhores endereços de música ao vivo de São Paulo.

"Tempo de espanar as prateleiras", na Casa de Francisca

Foram 12 canções, em pouco mais de uma hora. Doze canções compostas nos últimos três anos com o amigo Vicente. Foi em abril de 2008 que nos reencontramos, após mais de dez anos, num improvável karaokê na Liberdade. Um grupo de amigos seguira para lá após a festa de lançamento da revista em que trabalho - e Vicente sentou à mesa ao lado. Treze anos antes, em 1995, tocávamos juntos em uma banda chamada Raiz Forte. Chico, Karina, Vicente e eu, tínhamos todos entre 15 e 17 anos de idade na ocasião, e fizemos não mais do que três ou quatro apresentações, em locais como o extinto Vou Vivendo, na Avenida Pedroso de Morais, e a Cultura Inglesa de Pinheiros, onde foi (mal) feita a foto abaixo, um dos raros registros que tenho daqueles tempos. Vicente é o cara com o baixo, junto ao microfone. Eu estou escondido na bateria.

Chico, Karina, Vicente e eu em show na Cultura Inglesa (1995)

Nossa primeira composição foi feita naquela época, com os outros dois membros da banda, e versos um tanto constrangedores:

"(...) Em cada esquina 
uma menina 
vendendo a flor da juventude 
vendendo o corpo sem saúde (...)". 

De lá para cá, graças ao bom Deus, minhas letras melhoraram um pouquinho. E a música do Vicente também. Nós também nos tornamos pessoas melhores, acredito. E, esteticamente, uma mudança fundamental aconteceu: as barbas cresceram e os cabelos encolheram.

Vicente em 1995 

Eu em 1995

Quando nos encontramos, em 2008, no tal karaokê, Vicente me contou que havia se profissionalizado. Agora, fazia trilhas e arranjos instrumentais, trabalhava como produtor, e, multinstrumentista, tocava piano, acordeão e baixo em grupos de jazz (e tango!) ou como frila, em gravações de álbuns de diferentes estilos. Também dava aula de piano e musicalização. E tinha interesse em começar a experimentar um repertório de canções. Alguns meses depois, lhe enviei por e-mail uma letra. Semanas depois, chegou um e-mail dele com um arquivo em mp3. "Delicadeza" estava quase pronta, já arranjada, faltando apenas os versos para preencher o refrão que ele havia criado:

"(...) De que é feito o amor?
De onde vem, e quando?
Como nasce? Quem o faz vingar?
Pra que serve? Onde vai parar?
Vem do gesto de quem ama.
Vem, o amor, do afã de quem se dá.
Desarruma nossa cama,
Põe a vida de pernas pro ar (...)"

Inaugurávamos, assim, a segunda fase da nossa parceria.

Para o show de ontem, Vicente montou a banda meio às pressas, daí a presença inevitável de partituras pelo palco. Tarefa difícil é decorar tanta música em menos de um mês. "Ela roi as unhas", "Pas de deux", "Ausência", "Quando ele me chamar de pai", "Pode entrar"... A mim, sabidamente uma pessoa ranzinza e metódica, caxias em quase tudo que faço, o resultado foi além do esperado. É claro que saí com ideias para um e outro reparos: ajustar a letra de "Nas mãos da malabarista", sugerir modificações no arranjo de "32". Fora isso, meu maior desejo é de que Vicente convença os músicos a registrar esse repertório em estúdio.

A Fábio Barros, Igor Pimenta, Ilana Volcov e Sonia Goussinski, meu mais profundo agradecimento. E, precisando de uma letra, estamos aí!

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