domingo, 25 de julho de 2010

Isso é jazz

Ontem passou na TV o filme O Terminal, aquele em que Tom Hanks interpreta um cara da Cracóvia que chega a Nova York com uma latinha de amendoim para lá de suspeita e é impedido de entrar no país. Após semanas morando no aeroporto, ele finalmente nos revela a razão da viagem e o conteúdo da latinha. Ali dentro há dezenas de autógrafos, obtidos por seu pai junto aos mais renomados músicos de jazz dos Estados Unidos. Acontece que o pai morreu sem completar sua coleção de autógrafos. Ele havia guardado uma foto, feita no Harlem e publicada na revista Esquire em 1959, na qual o fotógrafo Art Kane clicou 57 músicos de jazz juntos, entre os quais Count Basie, Dizzy Gillespie, Lester Young, Thelonious Monk, Gerry Mulligan, Sonny Rolins... Ficou faltando apenas um autógrafo, o de Benny Golson, músico-residente em um hotel de Nova York. E Viktor Navorski, o personagem de Tom Hanks, decide viajar para concluir a missão à qual o pai havia dedicado mais de 40 anos. Em determinado momento do filme, perguntam a ele o que há na latinha. A resposta é breve e verdadeira: "Isso é jazz", ele diz.

Art Kane juntou 57 astros do jazz em 1959.
A foto foi publicada na Esquire


Sempre gostei desse filme. Ontem, o assisti pela quarta vez. Seu significado foi mais intenso agora porque amanhã, veja você, embarco para os Estados Unidos a fim de cumprir a rota do jazz. Vou passar quatro dias em New Orleans, dois dias em Memphis e outros quatro em Chicago, disposto a ouvir o máximo de trompetes, saxofones e pianos que conseguir. Quarta-feira à tarde, estarei caminhando pela Bourbon Street. Conhecerei o French Market, provarei do autêntico tempero cajun. Ouvi dizer que Ellis Marsalis toca toda quinta em um espaço para 90 pessoas e já fiquei com os dedos coçando (essa costuma ser minha reação psico-somática em momentos de ansiedade ou entusiasmo).

A Bourbon Street faz meus dedos coçarem
(foto: Cosmo Condina/NewOrleansOnline.com)

Farei uma viagem em família. Meu pai completou 60 anos há pouco tempo e, entre promover uma festa para 300 pessoas e investir uma grana preta em um porsche, uma harley ou qualquer outro desses brinquedinhos que costumam seduzir homens de meia idade, optou por convidar a mulher e os quatro filhos para dar um passeio. Fiz as contas e percebi que a última vez que viajei com meu pai e minhas irmãs foi há 13 anos. Ainda tenho as fotos daquele janeiro, no qual minha cabeça estava careca por conta do vestibular. Definitivamente, esta será uma experiência e tanto.

Que segredos guarda o Frech Quarter?
(foto: GNOTCC, Ron Calamia/NewOrleans.com)


É provável que eu deixe de lado a blogosfera durante a jornada. Será algo inevitável. Estarei certamente muito ocupado entre a música e o Mississippi. "The moonlight on the bayou, a creole tune that fills the air...", como na letra da belíssima Do you know what it means to miss New Orleans.



All I ask you in this moment is... torça por mim! A gente se fala na minha volta, daqui a duas semanas. Oh, yeah!

sábado, 10 de julho de 2010

Como nasceu o Morumbi

Sou do time que ainda torce para ver a abertura da Copa de 2014 no Morumbi. Talvez por ser são-paulino e guardar boas lembranças do estádio, onde estive pela primeira vez quando Cilinho comandava o jovem ataque formado por Müller e Careca e aonde voltei para conferir a maestria de Telê Santana nas Libertadores de 1992 e 1993. Talvez porque encare com certa desconfiança a viabilidade de se erguer, em tão pouco tempo, um estádio totalmente novo em Pirituba - e ainda equipá-lo com avenidas, metrô, linhas de ônibus, estacionamentos e demais serviços. Por mim, prefiro torcer para que o São Paulo consiga viabilizar junto à iniciativa privada o projeto de reforma que o habilitará a seguir como representante da capital paulista no próximo mundial. E para que o Ricardo Teixeira, se não puder ajudar, que pelo menos pare de atrapalhar.

Projeto de reforma para a Copa de 2014

Contei a história do estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, na mais recente edição da Revista Época São Paulo. Para escrever a reportagem, visitei algumas vezes o clube, li diversas publicações que noticiaram sua construção a partir de 1952, tive a oportunidade de ver dezenas de fotografias daquele período e conversei com muita gente que fez parte da sua história, como o ponta-direita Peixinho, autor do único gol marcado na partida de inauguração (o São Paulo venceu o Sporting de Lisboa por 1 X 0 em 2 de outubro de 1960), e o ex-governador paulista Laudo Natel, presidente do São Paulo de 1958 a 1972. Aos 89 anos, Natel continua indo diariamente a seu escritório na Rua Nestor Pestana. Em sua sala, junto a uma réplica do estádio e a uma bandeirinha do clube, o fundador do Bradesco e patrono tricolor parece ansioso com o jogo de empurra da CBF. "A Fifa quer um estádio para 60 mil pessoas, que esteja perto de hospitais, do aeroporto, do metrô e de hotéis", disse Laudo Natel. "Que lugar atende a essas exigências? E quem construirá um novo estádio, uma vez que as três esferas de governo já anunciaram que não colocarão dinheiro nisso?"

Laudo Natel também torce para ver o campo na Copa

Filho de uma arquiteta e marido de outra, confesso que, no processo de apuração, o que mais despertou minha curiosidade foi descobrir, na biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, algumas plantas originais, em grande formato, desenhadas em nanquim sobre papel vegetal pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas, autor do projeto do estádio. Outros desenhos, como um corte lateral das arquibancadas e uma planta da implantação do clube, encontrei em uma edição de 1953 da Revista Habitat, também na biblioteca da FAU. Os arquivos da faculdade guardam também fotografias da maquete apresentada pelo SPFC à imprensa no início daquele ano. São essas imagens, feitas em um tempo alheio a AutoCad e Powerpoint, que eu apresento a seguir.

Implantação do clube no terreno


Planta baixa do estádio


Elevação da arquibancada


Seção lateral da arquibancada


Maquete apresentada em 1953


Outra foto da maquete de 1953

sábado, 3 de julho de 2010

Hoje tem festa de aniversário do Vlado!


Se estivesse vivo, o jornalista Vladimir Herzog teria completado 73 anos nesta semana. Não está, o que é uma pena (e, sabemos, um alerta para o futuro). A festa, no entanto, foi marcada para hoje, às 21h, na Sala São Paulo. João Carlos Martins vai reger a orquestra filarmônica do Sesi, em sarau polifônico com as participações da bateria da Vai-Vai, de um coral de Paraisópolis e, veja você, de Fafá de Belém. Tudo isso para celebrar o primeiro aniversário do Instituto Vladimir Herzog, providencial entidade capitaneada por Ivo Herzog, filho mais velho do jornalista, que já desponta como importante instrumento na luta pela justiça, pela democracia, pela liberdade de imprensa e pelos direitos humanos no Brasil.