Só agora reparei no belo título da mais recente exposição do Masp, inaugurada no início de fevereiro. Romantismo: a arte do entusiasmo é uma deliciosa definição; diz muito não apenas sobre o trabalho dos mais de 60 artistas reunidos na mostra, mas também sobre a sensação arrebatadora que nos acompanha em tempos de suspiros à janela e respiração arfante.
Entusiasmo. Palavra saborosa, esta. De onde vem? Parece grave, distinta, e ao mesmo tempo tão mundana, tão profana. Tem algo de ânsia nela, de ardor, de impaciência, de desejo. Ou será que apenas eu a traduzo desta forma, em razão de um vergonhoso hábito de me entusiasmar mais frequentemente com os tufões de Dioniso do que com a brisa de Apolo?
Curiosidade é coisa que sibila no ouvido da gente, você sabe, e provoca reações imprevisíveis em repórteres e afins. Resolvi dividir minhas entusiasmadas aflições com o Houaiss e descobri, veja você, que entusiasmo vem do grego enthousiasmós (peço desculpas, amigos filósofos, mas não sei grafá-la nos caracteres apropriados), que significa "transporte divino". O dicionário ainda tem a empáfia de me jogar na cara o sentido de entusiasmo: "nas religiões não cristãs da Antiguidade, estado de exaltação do espírito de quem recebe, por inspiração divina, o dom da profecia ou da adivinhação". E, por extensão, "estado de fervor, de emoção religiosa intensa" e "estado de exaltação da alma que vivencia o poeta ou o artista, arrebatado pela inspiração".
Ora, ora. E não é que tem muito de bom senso aí? O romantismo tem um pouquinho de tudo isso: inspiração, arrebatamento, exaltação da alma e do espírito, fervor e, quem diria, emoção religiosa intensa. Quanto ao dom da profecia e da adivinhação, bem, confesso que ainda não cheguei a esse estágio. Com um pouco mais de romantismo, quem sabe...
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