sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Um giro pela Liverpool Paulistana
Minha Pompéia foi ficando cada vez maior. Bares, restaurantes, lojas, cantinhos foram se somando ao meu tímido repertório e, aos poucos, fui conhecendo a vila até tomar gosto por andar a pé por suas ladeiras. No mês passado, a revista pediu que eu fizesse um "Vá a pé" no bairro. "Vá a pé" é uma seção da Época São Paulo na qual sugerimos um roteiro, cada edição em um bairro diferente, e convidamos os leitores a conhecer cerca de dez estabelecimentos, sejam eles gastronômicos, turísticos ou comerciais, em um percurso que costuma variar entre dois e cinco quilômetros: coisa para se fazer numa agradável tarde de sábado, sem histeria de relógio. Acabei descobrindo que a Pompéia, já apelidada de "Suíça Brasileira" e de "Liverpool Paulistana", completa 100 anos agora em outubro. E confirmei, mais uma vez, meu imenso prazer em viver por essas ruas.
Convido você a conferir o mapa criado por Daniel das Neves e descobrir algumas das jóias do bairro clicando aqui.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
N.D.A.
A moça do Snug Harbor
terça-feira, 17 de agosto de 2010
12 anos
Sensação gostosa ao reencontrar uma foto. Se não a primeira, por certo a segunda que fizemos juntos. 1998. A USP como ninho: coxia, estúdio, base para lançamento de foguetes. Antes de Londres, ainda. Antes de Araguaia e Marajó.
É bom ter você comigo, já lhe disse. E poder reafirmar, hoje e sempre, aquele "sim".
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Feijão com Lady Gaga
Estive pela primeira vez em Chicago em 2001, salvo engano, ao desdobrar uma passagem de volta de Detroit, onde cobrira uma feira de ciência e tecnologia para a revista ISTOÉ. Especialmente interessado em arquitetura na ocasião, dediquei meu único dia na cidade a percorrer os primeiros edifícios com mais de doze pavimentos do mundo, construídos nos anos 1880 e 1890 (após o grande incêndio que destruiu Chicago em 1871). Lembro de ter encerrado aquela tarde no 103- andar da Sears Tower, quando ela ainda perdia para o World Trade Center o título de maior edifício das Américas. Voltei agora, apenas para parabenizar a nova campeã.
Dessa vez, no entanto, não foi a arquitetura dos edifícios que chamou minha atenção, mas os maravilhosos monumentos e o invejável paisagismo do Grant Park, implantado à beira do Lago Michigan. Como uma espécie de Central Park, ou um Ibirapuera de Chicago, o parque reúne os principais museus da cidade, dezenas de barracas de cachorro quente e, nos fins de semana, famílias, casais de namorados e grupos de amigos ao redor de generosas cestas de piquenique. A porção mais ao norte, denominada Millennium Park, ainda não existia em 2001. Tampouco o Cloud Gate, a enorme escultura de alumínio em forma de feijão que reflete todo o skyline da Avenida Michigan e a nós mesmos em um jogo de imagens distorcidas, lúdicas e fascinantes.
O “bean” me arrebatou por quase trinta minutos e me fez ficar com raiva por estar sem a câmera. Voltei com ela à noite e ainda quis ir de novo, na manhã seguinte.
Esse turista que olha para cima no canto direito da foto abaixo sou eu, brincando de tirar fotos de mim mesmo.
Na sexta-feira, perto da hora do almoço, estranhei o intenso movimento de adolescentes nos arredores do Grant Park. Grupos enormes rumavam para lá, os rapazes de regatas e as garotas com shorts curtíssimos, quase sempre com garrafas de água nas mãos. Trânsito impedido, marronzinhos com apito na boca, cambistas vendendo ingresso, um som vindo lá do meio do gramado. Só então, tratei de me informar. Descobri que, de sexta a domingo, haveria ali um festival chamado Lollapalooza, que acontece todos os anos. O “Chicago Tribune” trazia o mapa dos oito palcos e a lista das atrações com os respectivos horários. Em um deles, a última atração da noite de sexta (começando às 20h, o que nos padrões brasileiros é quase uma temeridade) seria o fenômeno pop Lady Gaga. Simultaneamente, outro palco seria ocupado pelos Strokes. No sábado, os veteranos do Green Day. Explicava-se, assim, a profusão de camisetas regatas e shorts curtíssimos.
Como minha vibe era outra, aproveitei a mesma noite de sexta, a última das quatro que passei na cidade, para fechar com chave de ouro meu périplo pela terra do blues e do jazz. Por volta das sete, cheguei com minha irmã Maíra ao Buddy Guy’s Legends, casa de blues de propriedade do próprio Buddy Guy, onde esse monstro do blues moderno costuma dar uma canja de vez em quando. Ficamos pouco mais de uma hora ali, bebendo uma cerveja regional ao som de uma dupla de guitarra e teclado, até outra irmã, a Luanda, chegar. De lá, seguimos em direção ao Andy’s, uma casa de jazz com décadas de história, e jantamos ao som de um ótimo quinteto de fusion, formado por teclado, baixo (elétrico), bateria, trompete e trombone e liderado pelo trompetista Corey Wilkes. Finalmente, rumei sozinho para o Green Mills a uma hora da manhã, empenhando um restinho de energia em favor da obrigação de conferir de dentro a decoração da mais tradicional casa de jazz de Chicago, onde a turma de Al Capone costumava se reunir quando minha avó era uma mocinha. Piano, baixo, bateria e sax derramavam seu free jazz cheio de citações de bop e cool enquanto eu derramava uma pint de Guiness junto ao balcão.
O cenário do Green Mill não nega os filmes de gângsters: móveis de madeira de lei, fixos no chão, com estofado de veludo verde musgo, duas ou três colunas no meio do salão impedindo uma visão integral da banda e os impagáveis sofás em meia-lua junto à parede, onde se acomodam quatro ou cinco pessoas ao redor da mesa. E o balcão, um enorme aparador de madeira que se estende desde a entrada até vencer dois terços da casa, servido por um ex-hippie tatuado e uma mulher enorme, recém-saída de um western americano. Ao meu lado, quando minha pint já estava meio vazia (ou meio cheia, a contar pelo meu ótimo humor), sentou-se um deficiente visual, idoso, negro, de muleta na mão e óculos escuros, trazido até a banqueta por um funcionário da casa. Pediu birita à matrona do bar com jeito de habitué, possivelmente um velho músico de jazz que, um dia, soprou seu trompete ou dedilhou seu piano naquele mesmo palco. Só faltou levar a câmera.