
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
É pique!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
A vida muda

ao Tudo Cabe, extraída do poema
Dentro da Noite Veloz, de 1975:
"A vida muda como a cor dos frutos
lentamente
e para sempre
A vida muda como a flor em fruto
velozmente
A vida muda como a água em folhas
o sonho em luz elétrica
a rosa desembrulha do carbono
o pássaro, da boca
mas
quando for tempo
E é tempo todo tempo
mas
não basta um século para fazer a pétala
que um só minuto faz
ou não
mas
a vida muda
a vida muda o morto em multidão"
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Sábio esse D. Paulo
Dom Paulo vive hoje em uma casa de repouso em Taboão da Serra, município da Grande São Paulo. Aos 88 anos, tem a saúde debilitada, respira com a ajuda de aparelhos, não dá entrevistas e restringe o fluxo de visitantes aos familiares e amigos mais próximos. No entanto, continua lúcido e com a mesma garra do tempo em que desafiava o Vaticano e deixava constantemente a cúria metropolitana para visitar presídios e espernear contra os abusos do regime militar. Denunciou a tortura de presos políticos e trouxe repercussão internacional às denúncias. Celebrou missas em memória de Alexandre Vannucchi Leme (1973) e Vladimir Herzog (1975), os dois maiores eventos de repúdio à ditadura ocorridos na Catedral da Sé, e gravou seu nome no panteão dos defensores dos direitos humanos. Entre 1979 e 1985, esteve à frente do grupo de advogados, jornalistas e ex-presos políticos que listaram os nomes de mais de 400 torturadores, mais de uma centena de mortos ou desaparecidos sob as mãos do Estado, e discorreram em minúcias sobre as técnicas de tortura utilizadas nas catacumbas. Publicado em 1985 com o título Brasil: Nunca Mais, o livro se tornou o mais importante registro dos bastidores dos anos de chumbo. A história deste livro é contada em outro livro, Olho por Olho, que rendeu a Lucas Figueiredo o prêmio Vladimir Herzog de livro-reportagem no ano passado.
Ao lado de Olho por Olho, outro livro publicado em 2009 que ajuda a explicitar o papel libertador desempenhado por Dom Paulo a partir dos anos 1970 é Fé na Luta, da historiadora e cientista política Maria Victoria Benevides. Focado na trajetória da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, um grupo de voluntários arregimentado pelo cardeal em 1971 para atuar na defesa dos direitos humanos em diversas frentes, o livro reconstrói um período de trevas durante o qual apenas um homem da envergadura de Dom Paulo poderia carregar o lampião. Ainda em 2004, colaborei com algumas pesquisas que auxiliaram Maria Victoria na redação do livro, trabalho do qual muito me orgulho.
Esse mesmo Dom Paulo, ainda mais franzino do que antes (irrevogável ação erosiva do tempo), é o nome que encabeça, segundo o jornal Folha de S. Paulo, um abaixo-assinado encaminhado recentemente ao Presidente Lula em apoio ao Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3), o mesmo que vem sendo duramente criticado por setores mais conservadores da Igreja, da mídia e da sociedade civil. Ao lado de nomes como Chico Buarque e Fernando Morais, Dom Paulo estende seu desagravo ao mesmo programa que, na última semana de dezembro, causou espécie nas Forças Armadas em razão da proposta de se cobrar delas um mea culpa - que culmine na confirmação de que o regime militar adotou a tortura como prática oficial de repressão política - e uma resposta conclusiva frente aos apelos encaminhados há 40 anos por familiares de mortos e desaparecidos para que se devolvam os corpos e se confirme o que aconteceu com cada um. Se alguém for até Taboão da Serra e tiver a oportunidade de perguntar a Dom Paulo o que o faz defender com tamanho afinco essa proposta, é possível que seja brindado com uma citação bíblica, do Evangelho de João. "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", resumirá o cardeal, a um só tempo sereno e impávido. Sereno e impávido como sempre foi.
Que vida linda, Dom Paulo!
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
O bom combate

Diante da iminência de uma importante derrota no campo pessoal - e acompanhando de perto a iminente derrota, desta vez no campo ideológico, de uma pessoa próxima a mim - tenho pensado em como é penosa essa história de transformar perda em bônus. Renascer das cinzas como fênix. Brotar da lama como flor-de-lótus. Pensativo, busco respaldo no legado deixado por pessoas mais inteligentes do que eu e tento aprender com o poema em linha reta ("todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo") e com a carta de Paulo a Timóteo ("combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé").
Principalmente, transformo em espada os versos cantados por Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro na canção Mordaça para cravá-la, verdade maior, acima de derrotas e vitórias: "o importante é que a nossa emoção sobreviva".
Tudo o que mais nos uniu separou.
Tudo que tudo exigiu renegou.
Da mesma forma que quis recusou.
O que torna essa luta impossível e passiva?
O mesmo alento que nos conduziu debandou.
Tudo que tudo assumiu desandou.
Tudo que se construiu desabou.
O que faz invencível a ação negativa?
É provável que o tempo faça a ilusão recuar.
Pois tudo é instável e irregular.
E de repente o furor volta,
o interior todo se revolta
e faz nossa força se agigantar.
Mas só se a vida fluir sem se opor.
Mas só se o tempo seguir sem se impor.
Mas só se for seja lá como for.
O importante é que a nossa emoção sobreviva.
E a felicidade amordace essa dor secular,
pois tudo, no fundo, é tão singular.
É resistir ao inexorável,
o coração fica insuperável
e pode, em vida, imortalizar.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Prenderam o Lula

