Refiro-me ao fato de o próprio universo político ter se transformado em freak show, enquanto as instituições públicas convertem-se, paulatinamente, em um picadeiro muito mais fértil do que poderiam imaginar os mais criativos saltimbancos.
Não é à toa que o Congresso seja chamado frequentemente de "circo", inclusive pelos micos amestrados que perambulam por ali. E, a fim de promover a renovação sistemática do público e evitar-se a mesmice, a cada temporada surge um novo astro: um exímio atirados de facas, um destemido comedor de espadas, uma incauta mulher barbada recém-saída da Bulgária.
Houve a temporada do trem da alegria, a marcha dos anões, a hora da dancinha... Teve parlamentar de olho roxo, senador-crooner cantando folk em plenária, morte e vida severina na presidência da Câmara... Agora é a vez de um duque chamar para si os holofotes. Um duque recém-chegado sabe-se lá de onde para presidir o Conselho de Ética do Senado, uma espécie de clube do bolinha responsável por escolher os ingredientes, sovar a massa, abrir a redonda e servir a fumegante pizza do Sarney.
Paulo Duque (PMDB-RJ) chegou à Casa como segundo suplente do hoje governador fluminense Sérgio Cabral. Não recebeu votos, não fez promessas de campanha, age como se não tivesse contas a prestar com o eleitorado (até por não ter um). Assumiu o cargo indicado por Renan Calheiros, mais um cacique do mesmo partido de Duque e, é claro, Sarney. Já em suas primeiras declarações públicas, desacreditou as denúncias feitas contra o correligionário, disse que os atos secretos eram uma bobagem e esculhambou a opinião pública. "A opinião pública é muito volúvel", ele disse. "Não temo ser cobrado por nada. Quem faz a opinião pública são os jornais, tanto que eles estão acabando". Sobre a contratação de parentes, foi igualmente blasé: "Nomeações políticas sempre existiram, desde que o Brasil é República".
Tudo indica, pelo programa vendido na porta do teatro, que o final da peça é aquela que todos imaginam. Quando um servidor assume um cargo no qual deveria atuar com isonomia, como um juíz, e desanda a emitir opiniões pessoais logo de saída, acontece o que na Fórmula 1 convencionou-se chamar de "queimar a largada". É pena que, debaixo da tenda e acima da serragem, malabaristas e equilibristas prefiram fingir que nada veem. Pior para a nação, melhor para a farsa. Deixa o duque atuar à sua maneira!
O que mais me assusta é perceber que as frases de Duque, apesar de absurdas, fazem sentido. É mesmo verdade que muita coisa errada está aí desde que o Brasil é República. Faz parte de uma cultura arraigada, como um mal cheiro que impregna e não sai com pouco sabão. Mudar? É como tentar tirar os ossos suculento de uma matilha feroz e violenta...
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