sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Entra e sai de artilheiros


As melhores equipes estão sempre em mutação. É preciso substituir quadros, adquirir novos talentos, promover a alternância de poder. É preciso, também, reconhecer quando a casa ficou pequena demais para quem merece alçar voos mais altos – e, nesses casos, há que se resignar com a perda inevitável, um pouco como os pais que veem o ninho vazio após a partida dos filhos. A regra é clara. Vale para o futebol, vale para o mundo da política, e vale também para o jornalismo. As redações, diferentemente dos diamantes, não são eternas. Nem as mais preciosas delas.


Nesse fim de tarde de sexta-feira, véspera de Carnaval no Brasil – e também no Jaguaré, onde fica a redação da Época SÃO PAULO – misturo saudade e carinho para escrever esse post (sobre times que mudam, sobre diamantes que se vão). A partir da próxima quinta-feira, dois repórteres-artilheiros terão alçado seus voos. Deixarão vazias as cadeiras à minha esquerda e à minha frente. Os dois me acompanham desde minha estreia como editor, em setembro de 2011, e me ajudaram a construir o pouco que sei sobre gestão de pessoas e coordenação de equipe. Antes disso, Eduardo já era repórter da revista, meu colega de apuração e escrita. Rafael veio de quatro anos na Época NEGÓCIOS para a vaga que eu ocupava antes de assumir a edição. Nosso time, enxuto e inquieto, se completava com Nathalia, integrante mais antiga da revista, aonde chegou como estagiária, antes de sair o primeiro número. Desde então, todos crescemos. Aprendemos. Criamos. Fizemos o que é natural a todas as pessoas: não terminadas, elas afinam e desafinam, como nos contou Guimarães Rosa.
Vizinha de mesa por tantos anos, Nathalia foi a primeira grande baixa, em outubro passado. Voou em direção à editoria de comportamento da Época, cheia de planos de fazer hard news e conhecer, por dentro, o ritmo de uma revista semanal. Nesta semana, saíram os outros dois. Eduardo recebeu um convite generoso do Meio&Mensagem. Rafael, que recentemente fora promovido a editor assistente, vai cobrir tecnologia na Época. Minha satisfação é saber que todos tiveram seus trabalhos valorizados e reconhecidos. Selecionados, como foram, num mercado tão disputado como é o nosso, partem com a altivez e a paz de espírito de terem combatido um bom combate, com ânimo renovado para combater muitos outros. O sabor da vitória também é meu. Se nossa revista serviu de vitrine, reivindico solenemente um quinhão desse bom resultado amealhado (um quinhão miúdo, voilá, uma “caixinha” de 10%...).
O baque virá aos poucos. Na próxima quinta-feira, vou estranhar as ausências. A ausência do Edu será a ausência de suas risadas, de seu pescoço esticado para conseguir me olhar de trás de seu PC, a ausência de sua aflição às vésperas do fechamento, com duas ou três matérias para entregar. A ausência do Rafa será a ausência de sua agitação, de seu tom de voz elevado (com um persistente sotaque carioca), das sugestões de pauta que ele me apresentava, incansável, duas ou três vezes por dia, da sua saudável disposição para aprender coisas novas o tempo todo.
Dizem que é um ciclo que se fecha. Eu digo que os ciclos não fecham. Eles se sucedem, e se tangenciam, e se entrelaçam, como argolas de uma corrente – ou como um espiral. Veio a Denise, em dezembro, para a vaga da Nathalia, com o entusiasmo de quem já namorava a Época SÃO PAULO, à distância, há mais de um ano e meio. É dela metade da matéria de capa da nossa próxima edição, que sai no dia 25. Já nos próximos dias, aporta por aqui a Fernanda, sangue novo na Editora Globo, ex-Veja online. E logo completaremos o time, com novos atletas, aquecidos e preparados para a próxima temporada. Estarei por aqui quando essa nova leva também alçar voo, deixando carinho e saudade?