segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma cidade animal

A capa da revista Época SÃO PAULO deste mês é uma das coisas mais fofas que nós já publicamos. Fiquei cheio de orgulho ao receber elogios e ver alguns exemplares em exibição nas bancas. Soube até que, em muitas delas, a Época veio encartada na Época SÃO PAULO, subvertendo a ordem natural das coisas (para nosso deleite).
A edição também trouxe uma novidade. Em razão de mudanças internas, coube a mim escrever o editorial, que apresenta a revista ao leitor. Tomo a liberdade de reproduzi-lo abaixo. E reafirmar as palavras ali publicadas.

Recentemente, nosso repórter eduardo duarte zanelato chegou irritado à redação. chico, o buldogue francês de sua irmã, havia devorado seu bloquinho, um elegante moleskine. Como um cãozinho pode ser tão cruel? Desde então, Edu não apenas aprendeu a cuidar do filhote na ausência da irmã como passou a dividir apartamento com eles (a irmã e o cão, hoje com 1 ano). Não bastasse, sua namorada, Margarida Telles, também jornalista, assumiu um blog sobre pets em nosso site, o Farejador: Bichos (http://colunas.epocasp.globo.com/farejadorbichos). A experiência só fez aumentar a paixão de Magá por cães. E parece ter contribuído para torná-la ainda mais apegada a Hobbes, seu border collie - raça que ela insiste em chamar de "a mais inteligente do mundo". O nome do animal, aliás, é homenagem a seu filósofo preferido, Thomas Hobbes, o inglês que, em outro contexto, afirmou que o homem é o lobo do homem - e que, até hoje, não sei dizer se tinha um amigo canino.
Quando bebê, Hobbes também mastigou algo valioso de sua dona: um guia de raças. Para Magá, foi a forma que ele encontrou de dizer que dispensava um irmãozinho. Ambos os ataques jamais impediram que os dois jornalistas, autores da reportagem de capa desta edição (pág. 42), estreitassem a cada dia o carinho que têm por seus cães. É esse carinho quase incondicional dos donos por seus animais que explica haver em São Paulo 2,4 milhões de cachorros domésticos - um para cada cinco pessoas - e 4 mil pet shops - número igual ao de padarias. Amor semelhante é o que temos pela cidade. Mesmo quando São Paulo nos obriga a digerir notícias sobre temas dolorosos, como a ameaça de fechamento do Cine Belas Artes (pág. 62) e a escalada da violência na Paulista (pág. 56), é com alegria e vigor redobrados que, com frequência ainda maior, ela insiste em nos fazer festa e abanar o rabinho. Sorte nossa.